Carolina Maria de Jesus recebe título de doutora honoris causa

Homenagem reconhece postumamente a importância da escritora na luta antirracista
Rosto da escritora negra Carolina Maria, com lenço na cabeça
Carolina Maria – Foto: Reprodução/EBC

A escritora Carolina Maria de Jesus recebeu da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) o título póstumo de doutora honoris causa. A homenagem, sugerida pela Direção do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade, foi concedida no dia 25 de fevereiro de 2021.  Na justificativa, a comissão destaca a relevância da escritora, reconhecida como “fundamental na luta antirracista”.

Ex-catadora de papel e com uma trajetória que inclui a vida na favela do Canindé, em São Paulo, a autora, nascida em 1914, traduziu em suas obras o enfrentamento do racismo estrutural. Seu primeiro livro, “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, foi escrito quando ainda sustentava a família como catadora e escrevia no pouco tempo que sobrava. O livro repercutiu logo na estreia e foi traduzido para mais de quinze idiomas em 40 países. Ela morreu em 1977, em São Paulo. 

O documento da UFRJ afirma a importância da concessão do título honorífico pela necessária “reparação histórica do apagamento não de uma personalidade, mas de um segmento étnico que historicamente foi negado o lugar na cultura nacional”. Destaca ainda que pretende reconhecer injustiças do passado e, principalmente, construir novas possibilidades e percursos para mulheres negras, “cuja marca de subalternidade que alijou Carolina Maria de Jesus do espaço público e literário ainda precisa ser superada”. 

Conheça a história de “Quarto de despejo”

Os diários que compõem a obra mais conhecida de Carolina Maria de Jesus foram escritos entre 1955 e 1960. Ela foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que a conheceu quando fazia uma reportagem sobre a crescente favela Canindé, em São Paulo. O livro é um compilado dos diários e narra a luta de uma mulher preta que criou sozinha seus três filhos trabalhando como catadora de papel. Mesmo tendo estudado por pouco tempo, ela valorizava a educação dos filhos. Outro aspecto da biografia da autora é que ela nunca quis se casar, defendia que não precisava de homem para sustentar os filhos. A vida na favela e suas mazelas, a miséria, a fome e a violência perpassam toda a história de Carolina de Jesus. Mesmo com tantas dificuldades, a escritora deu voz a milhões de outras pretas marginalizadas que, como ela, enfrentam no dia-a-dia as consequências do racismo, do machismo e da desigualdade social.