“Que possamos olhar as riquezas da vida”

Rosto da escritora Renata Py com seu livro Firmina
Renata Py e seu livro Firmina- Foto: arquivo pessoal

Renata de Souza Py é uma jovem escritora paulistana do olhar dulcíssimo – a marca registrada em todas as fotos que tira – e da voz de menina. Sua escrita é leve e translúcida. Algo que nos arrebata sutilmente e vai nos levantando em um voo de criança, mágico, que nos envia para lugares que só ela imaginou e resolveu nos convidar a conhecer.

Assim é Firmina, seu primeiro livro com um tom de realismo fantástico, que nos transporta a um lugar onde gostaríamos de viver, com certeza! Cidadezinha singela que guarda em seu chão, no ar, nas suas árvores, em suas casas e em cada canto, uma aura de mistério e de clareza, de profundeza e superfície, de amores e indiferenças e de suas gentes que gostaríamos que fossem nossas gentes!

Quando perguntada de onde ela – Renata Py – veio, já responde assim em uma fala cheia de poesia: “Constâncio, lá do interior do Rio de Janeiro, arrebatou-se por uma canadense chamada Marciene, nas margens do rio Sena. O fruto desse flerte chama-se Pedro. José, também do interior do Rio, enlevou-se pelos olhos sorridentes de Alice e seguiram um longo caminho juntos, dando vida à Lucia. Pedro e Lucia, apadrinhados pelo destino, encontraram-se num baile. Após dançarem “Blue Moon”, Pedro jurou nunca mais largar a moça de cabelos negros e soltos. Cumpriu promessa e tiveram Danielle, Fabio, Cristiane e Renata (mãe de Sofia e Amora)”.

Para a estreia da editoria de ‘Entrevistas’ do Portal Firminas, apresentamos a criadora de Firmina, o livro.

Portal Firminas – Como foi que começou a se interessar por literatura?

Renata Py – A casa dos meus pais sempre foi repleta de livros e eles conversavam muito com a gente sobre pensadores e histórias clássicas, assim como mitologia, poesia e outros temas. Então, a literatura está comigo desde que me lembro por gente. Meu avô paterno (o tal Constâncio) tinha uma biblioteca na casa dele onde passava a maior parte do tempo – um lindo sótão ensolarado, onde eu me refugiava das conversas dos adultos.

Portal Firminas – O primeiro livro foi Firmina. Como foi o processo de criação dessa história?

Renata Py – Firmina nasceu dos personagens que vi nas cidadezinhas do Brasil. A princípio, através de minicontos, depois contos e assim – com todos eles trocando ideia na minha cabeça – surgiu um romance em que eles interagiam e conviviam. O processo foi organizado por horas e metas de escrita e pesquisa. E seguiu assim andando, com passos de firminenses, um processo delicioso.

Portal Firminas – Onde fica Firmina?

Renata Py – Se você procurar no mapa, não vai achar. Ela é a volta ao singelo – aquele lugar em nossa memória onde se acorda com o galo, se ouve música pelo instrumento e voz dos vizinhos, conversa com os conhecidos com o tempo que se merece, sem pressa de se dar atenção a outro indivíduo. O pão quente nunca esfria até chegar em casa e não se perde a vida em filas de carro. Firmina é a época dos geladinhos e doces de compotas feitos com frutas do pomar de cada casa. A brincadeira de rua, a dança da menina com os pés descalços. Firmina está aonde a notícia chega no tempo que tem que chegar – e se realmente precisar chegar. Ninguém precisa saber mais ou menos, apenas estar ali – vivendo o presente.

Portal Firminas – O que o nome do lugar – cidade imaginária – tem em comum com a poeta Maria Firmina?

Renata Py – Admiro a trajetória da Maria Firmina, apesar de conhecê-la menos do que eu gostaria. Mas o nome dessa cidadezinha não tem nenhuma relação com ela. Apareceu num sonho, quando batia papo com o escritor chileno Roberto Bolaño em uma sacada árida e solar, à beira de uma estrada deserta. Sorridente, ele disse: “O nome dessa cidadezinha, Renata, é Firmina”.

Portal Firminas – Que espaço a literatura ocupa na sua vida?

Renata Py – O espaço que lhe cabe em cada época. Às vezes menos, às vezes mais. Certamente é um espaço importante. Muitas vezes foi por necessidade de refúgio e outras, apenas por distração. Mas ela sempre me cutuca, chamando para ler livros ou até mesmo escrever.

Portal Firminas – Quais são os projetos literários de futuro?

Renata Py – Projetos sempre existem. Vou estabelecendo minhas metas no decorrer da rotina e acariciando a escrita quando necessário. Assim, outras vidas como a do seu Guinga, Juliana, Zeca Sapatilha (personagens de Firmina) vão nascendo e ganhando um destino em páginas vazias.

Portal Firminas – O que você acha do lançamento de um Portal de notícias, com viés e linha editorial profundamente femininos e feministas, com o nome Firminas?

Renata Py – Um portal de notícias com linha editorial feminina e feminista é certamente um espaço que dará voz a muitas questões. Que venham alegrias, compartilhamento de bom bate-papo e oportunidades, lembrando que estamos juntos nessa existência. A evolução virá se caminharmos unidos. Acho o nome uma simpatia, ainda mais homenageando a primeira romancista brasileira. Úrsula é certamente um livro que preciso ler e pretendo fazer isso logo. Firmina carrega, além da simpatia fonética, a trajetória da professora, poeta (maravilhosa) e compositora – numa época em que esse caminho a ser percorrido por uma mulher era um ato de coragem e vontade.

Portal Firminas – Qual é o seu recado para esse momento?

Renata Py – Que a gente possa olhar para as riquezas da vida. Cuidar da natureza como nossa grande mãe. Acariciar o planeta que nos recebe e nos guarda tão bem. Agora, mais do que nunca, precisamos olhar por isso e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance – reciclagem, gentileza, solidariedade, paciência e sobretudo amor.