Capacitação desafia presença da mulher na área de Tecnologia da Informação

Startup social paulista que ensina programação para mulheres, priorizando as negras e/ou trans, tem o objetivo diminuir a lacuna de gêneros no mercado de TI
Mariel Reyes Milk, CEO da Reprograma – Foto: divulgação

Ao longo dos anos, a trajetória da mulher no mercado de Tecnologia da Informação (TI) melhorou, porém, muitos obstáculos ainda precisam ser enfrentados quando o assunto é diversidade de gêneros, principalmente nesta área. Apenas 35% dos estudantes matriculados no ensino superior na carreira de TI são mulheres, de acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Outro ponto de destaque é a capacitação de mulheres trans e cisgênero, que deve ser levada em consideração. A CEO da {reprograma}, startup social paulista que ensina programação para mulheres com prioridade para trans e/ou negras, Mariel Reyes Milk, explica que alguns fatores ainda dificultam a presença de mulheres no mercado de TI. 

A chamada síndrome do impostor é um dos fatores apontados pela CEO. “O primeiro passo é trabalhar o indicador mentiroso, que está relacionado ao fato das mulheres não acreditarem na capacidade delas em aprender a programar e se enxergarem como programadoras. É necessário trabalhar bastante essa mentalidade”, diz.

Outra dificuldade é a falta de referências femininas. “Ter um modelo para se identificar e se inspirar é fundamental. Na {reprograma} prezamos por ter ex-alunas negras e/ou trans como professoras e monitoras em nossas turmas, assim as alunas podem conectar com as histórias das professoras e se espelham para alcançar o sucesso profissional”.

Ela aponta, ainda, que as mulheres têm que se sentir em um ambiente seguro, para que possam aprender e fazer perguntas sem julgamentos. E defende que a área de TI precisa ter mais união. “É essencial que haja a possibilidade das mulheres se apoiarem, porque é por meio da sororidade que elas entendem que não estão competindo e que juntas elas podem chegar mais longe”, pede.

Por fim, Reyes lembra que redes sociais podem ser ótimas amigas nessas horas, pois com elas é possível compartilhar vagas de emprego e treinamentos. “O Telegram, por exemplo, é muito útil porque é um canal de conversa aberta, o qual também utilizamos na startup durante e depois dos cursos de back e front-end. Essa rede de apoio faz com que as mulheres não se percam no meio do caminho e não se sintam sozinhas, além de possibilitar a aquisição de conhecimento constantes.”

Oportunidades para mulheres em TI

Atualmente, menos da metade das mulheres negras brasileiras, cerca de 46%, exercem trabalho remunerado e apenas 8% das que trabalham no mercado formal ocupam cargos de gerente, diretora ou sócia proprietária de empresas. Na fatia de 46% que estava trabalhando, 20% atuavam como autônomas, de acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria Indique Uma Preta e pela empresa Box1824.

No ano passado, a {reprograma} realizou, de maneira gratuita, seis cursos de 18 semanas, com aproximadamente 35 alunas por turma, formando mais de duzentas mulheres para atuarem no mercado de tecnologia e contribuindo para a ampliação da diversidade e inclusão no setor.

Quase metade delas, negras e em situação de vulnerabilidade, tiveram a oportunidade de se formarem em front-end ou back-end, utilizando ferramentas modernas e bastante requisitadas no setor, como React e Node, o que possibilitou que as alunas saíssem preparadas para atender à crescente demanda das empresas.

A startup social se prepara para lançar em março duas turmas de programação do “Todas em Tech”, iniciativa da startup social e do BID Lab, Laboratório de Inovação do Grupo Banco Interamericano de Desenvolvimento. O projeto tem como objetivo ensinar programação front-end e back-end e dar a oportunidade de um futuro melhor, por meio da tecnologia, para mulheres em situações de vulnerabilidade social, econômica e de gênero, com foco em mulheres negras e/ou trans.

Ao longo de dois anos, o projeto irá impactar 2,4 mulheres em todo o Brasil através de suas oficinas e formará 400 mulheres desenvolvedoras.

Desafios no mercado de trabalho

Desde o início da pandemia, a procura por profissionais da área de tecnologia aumentou, e até 2024 haverá a criação de mais de 420 mil vagas na de TI, de acordo com informações do Banco Mundial.

Após a formação em tecnologia da informação, as mulheres encontram alguns desafios iniciais no mercado de trabalho, como encontrar empresas que querem investir nessas mulheres e que possam desenvolvê-las. São outros desafios: superar comunidades machistas dentro e fora da empresa e acreditar que podem continuar aprendendo e crescendo na área.

“Acredito que muitas empresas já estão adotando a cultura de diversidade, principalmente na área de tecnologia, pois perceberam que pessoas diferentes dentro de uma equipe pensam de forma distinta e enxergam os problemas de maneiras diferentes”, explica Reyes.

Mais informações no www.reprograma.com.br

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