Grupo se mobiliza para resgatar história das mulheres no Corinthians

A presença feminina nas arquibancadas foi discutida com a Toda Poderosa Corinthiana Analu Tomé na segunda live do Firminas
Analu Tomé, é cofundadora do movimento Toda Poderosa Corinthiana – Foto: arquivo pessoal

Das trinta milhões de pessoas que integram a enorme torcida do Corinthians, as mulheres correspondem a 53%, conforme indicou pesquisa do Ibope. No conselho trienal do clube, composto por 200 conselheiros, porém, elas são apenas dez representantes. O abismo entre a presença na arquibancada e a representatividade nas decisões é apenas um dos problemas enfrentados pelas torcedoras do timão, cujo pano de fundo é a desigualdade de gênero.

Para debater a importância do feminismo para um futebol mais diverso e igualitário, as firminas receberam Analu Tomé, cofundadora do movimento Toda Poderosa Corinthiana, em live realizada no dia 3 de março durante a programação de lançamento do Portal Firminas. Analu foi entrevistada pela jornalista Francine Malessa, firmina e presidente da Força Feminina Colorada, um movimento criado para apoiar mulheres que se sentiam ameaçadas em irem sozinhas aos jogos e que representa as torcedoras no Internacional. A live pode ser conferida no IGTV do portal Firminas. 

História do movimento 

O movimento Toda Poderosa Corinthiana nasceu em 2016, quando foi formado um núcleo de estudos sobre gênero e mulher no Corinthians para apresentar dados sobre a presença feminina na torcida em um evento do time. Ao se debruçar sobre a história, o grupo, do qual Analu fazia parte, descobriu que as mulheres da torcida estavam na arquibancada, nas organizadas, consumiam produtos corintianos, mas eram invisíveis nos registros da história do Timão. A torcedora símbolo do Corinthians, dona Elisa – uma mulher negra da periferia que tinha o respeito de ídolos como Sócrates nos anos 80 – , aparece na história em alguns minutos de vídeo no youtube. Um memorial  em homenagem a ela foi totalmente esquecido no Parque São Jorge. 

“Quando nos deparamos com esse descaso com a mulher torcedora, criamos um grupo no Facebook  e em poucas horas reunimos 300 pessoas”, revela, remetendo ao início da história do toda Poderosa Corinthiana. O primeiro ato político do grupo foi uma nota de repúdio à capa do jornal Lance que objetificou uma cheerleader. A ação chamou atenção de apoiadores e também de ‘haters’ e foi assim que o grupo virou referência para as torcedoras corintianas. 

Um time popular precisa ser diverso

Analu Tomé avalia que o Corinthians, apesar de ser um dos times mais populares do País, precisa se abrir para a diversidade no dia a dia. O clube, de acordo com ela, realiza excelentes ações de marketing contra homofobia, machismo, racismo e xenofobia, mas ainda aceita atos que reforçam esses comportamentos dentro e fora do campo. “Não adianta fazer ação contra o racismo e tolerar ação racista da Polícia Militar dentro do estádio, contra o torcedor”, questiona. 

“O clube tem obrigação de educar os torcedores e os movimentos existem para cobrar isso. Sou Gaviões da Fiel e sei das dificuldades das mulheres nas organizadas. É preciso trabalhar o clube para que faça ações voltadas para minorias. Isso reflete tanto nos torcedores comuns como nas organizadas”, argumenta. 

E como mudar o clube? Analu é enfática na resposta: pela política. Por isso, é imprescindível que as mulheres participem da política dos clubes, como ela mesma fez ao entrar para o conselho do Corinthians. Outra observação é que o time nasceu na Zona Leste de São Paulo, em uma região periférica e populosa. As regras para participar das decisões do clube, porém, são consideradas elitistas. Afinal, o torcedor tem que comprar ingressos nem sempre acessíveis, aderir ao Fiel Torcedor e, para votar, precisa ser sócio do clube social, o que exige pagar mensalidade. “A maioria não tem condições, por isso defendo que o Fiel Torcedor também tenha direito ao voto”, reivindica. 

Intercâmbio de torcidas

Ao contrário dos movimentos que representam homens torcedores, os movimentos de mulheres de diferentes times dialogam bastante na busca de soluções para vencer as consequências do machismo. Por isso, se unem para promover ações de pacificação e resistência. Um exemplo recente foi a suspensão do contrato entre Santos e Robinho após a divulgação da notícia da condenação dele por violência sexual na Itália.  “Foram os coletivos juntos que abraçaram a ideia e se mobilizaram. Vencemos!  Não podemos esperar que homens criem regras que favoreçam as mulheres, isso não vai acontecer. Por isso, temos que ocupar todos os espaços.”

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