O dia que a minha prima enfrentou um stalker com um galho de árvore

Acredito que toda família tem uma personagem única, aquela que sempre rende história que a gente conta para as amigas e vai levando adiante as peripécias da parente. Pra mim, essa pessoa é a minha prima, a Thays. Nós já brincamos várias vezes que as histórias dela renderiam conteúdo de sobra. Então, por se tratar de uma mulher forte, independente e com muitos fatos engraçados, decidi dividir no Firminas. 

Antes de contar como ela enfrentou com galho o homem que a seguia na rua, acho importante contextualizar o histórico dela. 

A Thays é a única prima da família por parte do meu pai com quem eu tenho contato. Aliás, somos poucas mulheres na família Malessa. Minha avó teve cinco filhos homens. De netas, eu, Thays e outra prima mais velha com quem tivemos pouco contato. Então, ficamos eu e Thays mesmo. E esse é um fato que volta e meia destacamos em nossas conversas: ou nós seremos a salvação e orgulho da família ou a decepção por não seguirmos algumas regras morais e sociais com as quais fomos criadas. 

Nós não fomos as mais apegadas e amorosas uma com a outra, confesso. Inclusive, pouco convivemos na nossa infância. Foi a partir da adolescência que nos aproximamos e identificamos muitas afinidades que nem imaginávamos que poderíamos ter. 

A Thays acabou crescendo num círculo masculino, com dois irmãos e uma proximidade maior com o pai dela. Então, ela sempre teve alguns atributos e comportamentos nesse sentido, principalmente voltados à autodefesa. Se eu descobri o boxe e alguns golpes para me defender na rua apenas perto dos 30, a Thays fazia isso desde pequena, ao natural. Pasmem! Lembro que uma vez fomos em uma festa, para comemorar meu aniversário, e ela perguntou se faziam vistoria na entrada, pois estava levando uma soqueira. Até hoje não sei se foi de verdade ou brincadeira.

Então, há uns anos, eu estava passando os stories no meu instagram e parei num post dela. “Hoje foi o dia que eu corri um assaltante com um galho”. Imediatamente eu respondi “zero surpresas” seguido de “como assim?”. No final de semana nos encontramos e ela me relatou tudo em detalhes. 

A Thays havia saído para correr, no início da noite. Em certo momento percebeu um homem que também corria se aproximando dela. Ele perguntou o horário para Thays e ela respondeu que não sabia que horas eram. O homem olhou para o celular dela como quem pensa “Mas você tem horas no celular”. Minha prima continuou a corrida e percebeu que o homem a seguia. Ela atravessou a rua, parou num posto de combustível e ficou a observar o que o indivíduo fazia. 

“Até que horas vocês ficam abertos?”, perguntou ela ao frentista “até às nove”. “Beleza, vou fazer um tempo aqui, pois aquele cara está me seguindo”, disse ela com a naturalidade de quem comenta sobre o tempo com estranhos. O frentista ficou preocupado, mas ela o tranquilizou e disse que voltaria para casa, pois percebeu que o suposto perseguidor havia ido embora. 

A caminho de casa, o stalker ressurgiu e voltou a segui-la. Quando ela percebeu que poderia estar em perigo e não havia mais ninguém na rua, olhou em volta e encontrou um galho de árvore bem grande. Quebrou o galho na perna para repartir ao meio e usar como bastão. 

A Thays, treinada para enfrentar qualquer reality show de sobrevivência, avistou o perseguidor se escondendo atrás de uma parada de ônibus no qual se encontrava uma senhora idosa segurando muitas sacolas. “Ah, pronto! Agora esse cara vai assaltar a idosa”, pensou Thays. “Preciso salvá-la”.

Foi atrás do perseguidor como quem se prepara para uma briga, porém, ao ir em direção ao homem, escondido atrás da idosa, ouviu um grito: “Minha nossa senhora! Alguém me socorre, a menina vai me atacar”. Evidente que a pobre e indefesa senhora achou que o alvo fosse ela. 

Thays tentou explicar a idosa que estava em direção ao stalker, mas era tarde demais. A pobre senhora saiu correndo com as sacolas, pedindo socorro. 

O homem argumentou que estava apenas se exercitando e não queria fazer nada a ela. “Então, melhor você voltar a correr” disse ela indignada. E assim, a Thays correu o stalker, usando apenas um galho de árvore e sua cara de braba. 

No caminho para casa, ela avistou uma viatura da polícia vindo ao seu encontro. “Meu deus. Será que aquela senhora ligou para a polícia?”. De toda forma, jogou o galho fora para não acharem que estava “armada” e pegou uma pedra para caso o homem ressurgisse, que por sorte não aconteceu. E mais uma vez o dia foi salvo pela coragem da minha prima.