Escola de formação intelectual feminista dá voz a mulheres invisíveis

Roselaine Machado – foto: divulgação

Com aulas conduzidas por mulheres acadêmicas para mulheres interessadas por temas como gênero, violências contra mulher, ecofeminismo, feminismo negro e teologia feminista, a Escola surgiu no ano passado com objetivo de contribuir com a redução da desigualdade de gênero por meio da formação intelectual democrática, dando voz às mulheres invisíveis, e já atraiu alunas de 14 países.

As mulheres sempre fizeram parte do universo intelectual, das artes, das ciências, da filosofia e da música. No entanto, ao longo da história, suas obras foram ignoradas, invisibilizadas ou mesmo atribuídas a homens. Por conta disso, encontrar referências femininas, figuras que despontam por sua atuação, seja no mundo acadêmico ou no universo cultural, segue sendo um desafio até hoje.

Com o objetivo de evidenciar o trabalho de muitas mulheres, em março do ano passado, no início da pandemia, um coletivo de filósofas deu um passo importante para contribuir com a ocupação de mais espaços no país e dar luz a tantas mulheres que merecem ser vistas. Numa contraproposta a “Os Pensadores”, famosa coleção que reúne algumas das principais obras da história da filosofia, apenas as assinadas por homens, surgiu “As Pensadoras”.

“A história do pensamento também tem mulheres, e grandes mulheres! Por isso, estamos trazendo essas pensadoras para que todos tenham acesso e possam estudar sobre elas e seus legados”, afirma a coordenadora da Escola, Rita Machado.

História

Tudo começou com a oferta de um curso virtual que levava o nome da Escola, sugerido pela Rede Brasileira de Mulheres Filósofas e tinha como objetivo estudar mulheres intelectuais. De forma surpreendente, mais de 800 mulheres participaram. Com o sucesso tão rápido, o projeto ganhou corpo, e se tornou uma Escola de formação, passando a propor também estudos sobre o pensamento de mulheres invisibilizadas e desconhecidas na história do pensamento humano. No meio do ano, em agosto, após outros estudos entrarem no portfólio, foi a vez do curso sobre “As Pensadoras Negras” esgotar todas as inscrições em pouquíssimo tempo e ter mais de 750 pessoas inscritas.

A grande procura demonstrou que as pessoas estavam sedentas por conhecimentos que antes não eram ofertados nas escolas e universidades. “A demanda desde que anunciamos o primeiro curso apontou para a necessidade da criação de um espaço intelectual e interdisciplinar de aprofundamento”, destaca Rita de Cássia Machado.

Mais de 7 mil cursistas de 14 países passaram pela Escola até o momento. As aulas são todas realizadas por professoras com, no mínimo, doutorado, e tratam sobre temas de pensadoras fundamentais para a história do pensamento, de uma forma plural, do ponto de vista acadêmico e intelectual. Outro grande diferencial dos cursos, de curta, média e longa duração, são os valores mais acessíveis, que giram em torno de R$ 35 e R$ 250.

Desde o início de 2021, já estão sendo debatidos temas como: Mulheres no Cinema, Feminismo Socialista, Teologia Feminista, além de estarem previstos cursos sobre Ecofeminismo, Violências de gênero, Pensadoras negras brasileiras, Movimento lésbico e um Fórum que ocorrerá em fevereiro. Os valores arrecadados nas taxas de inscrições são doados parcialmente a projetos sociais feministas. A Escola conta ainda com o projeto de uma editora e já lançou uma livraria feminista, totalmente digital, com obras complementares ao conteúdo das capacitações.

Após quase um ano de sua criação, a ideia vem se consolidando e “As Pensadoras” têm sido um espaço necessário de fortalecimento, de união, discussões, aprendizado e ensinamentos, construído diariamente com a contribuição de muitas mulheres da academia e fora dela. “Para fazer parte d`As Pensadoras não precisa ser acadêmica, mas se interessar pelos temas de classe, raça e gênero, querer conhecer e aprofundar o conhecimento. “Aqui é um lugar plural, coletivo e interdisciplinar em que as mulheres de todos os cantos do país e que estão no exterior, são bem-vindas, pois entendemos que a formação intelectual das mulheres é uma das formas para a diminuição da desigualdade de gênero”, reforça Rita.

Sobre as fundadoras

Rita de Cássia Fraga Machado é a idealizadora e coordenadora geral da Escola As Pensadoras. Professora de Filosofia na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), no campus Tefé, é vice-coordenadora do Programa de Pós Graduação em Educação da UEA. É pesquisadora associada ao GT Filosofia e Gênero da ANPOF (Associação Brasileira de Pós-Graduação em Filosofia), do qual é integrante do núcleo estruturante. Também é membro da Rede Brasileira de Mulheres Filósofas. Tem diversas produções nos Estudos Feministas, na Filosofia Feminista e Mulheres.

Roselaine Machado é a coordenadora administrativa da escola. Administradora de formação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rose possui especialização em Gestão pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Suas experiências, em sua maioria, foram na área da saúde.

Curso destaca produção de mulheres negras.

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