Conceição dos Bugres: a potência da arte brasileira que precisamos ressaltar mais

“O Brazil não conhece o Brasil. O Brasil nunca foi ao Brazil”

(Querelas do Brasil/ Aldir Blanc e Maurício Tapajós)

Arte de Conceição dos Bugres, exposição MASP
Arte de Conceição dos Bugres, exposição MASP

Há uma grande diversidade para descobrir na arte brasileira artistas esquecidas ao longo dos anos, principalmente quando a obra não está popularizada ou disponível na educação escolar. Tem ainda produções antigas de pessoas em lugares que nem sempre são visualizados pelo público em geral, até quando está no centro do País. Para que a arte extrapole as suas regiões, o circuito da academia e sejam vistas ou contadas para mais gerações, é importante fomentar e levar adiante essas vivências.

Recentemente, em uma tarde de terça-feira com entrada gratuita no MASP, tive surpresa e encantamento ao me deparar com as obras e a história de “Conceição dos Bugres”, a artista que nasceu como Conceição Freitas da Silva, no Rio Grande do Sul, em 1914, e ainda na infância migrou para o Mato Grosso do Sul. Ela morreu em 1984.

“Tudo é natureza do mundo” é o nome da exposição sobre “Conceição dos Bugres”, em cartaz no MASP até janeiro de 2022. Nesta mostra é possível apreciar as obras, assistir um vídeo documentário de Cândido da Fonseca – que fez um registro precioso sobre a artista – e acessar o livro catálogo.

Arte de Conceição dos Bugres, exposição MASP

Uma experiência emocionante

Ao olhar o painel com as esculturas, os “bugrinhos” em madeira, senti curiosidade e encantamento pelas imagens que remetiam à cultura indígena em diferentes tamanhos e cores em destaque. Não era um apanhado “artesanal” ou caracterização, mas uma realização com identidade, genuína e expressiva.

Diante da minha ignorância, abordei a segurança sobre quem era aquela que ocupava um espaço individual (apesar da apresentação descritiva logo no início), ao lado da ampla mostra de Beatriz Milhazes. Ouvi uma explicação sensível, direta e instigante, que me deixou arrepiada ao saber de alguém que usou as suas habilidades despretensiosamente e intuitivamente. De origem pobre, ela conseguiu uma valorização artística ainda viva.

Conceição talhava com machado e facão e utilizava recursos naturais como cera de abelha em suas esculturas nas “madeiras que sorri”. Fiquei emocionada ao saber que Conceição benzia e presenteava com muitos dos “bugrinhos”.

Uma artista brasileira que viveu no sul-mato-grossense e deixou uma herança cultural genuína, rústica e expressiva, uma mulher para admirar, contemplar, pesquisar e aprender cada vez mais.

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