No mês do orgulho LGBTQIA+, a solidariedade pede passagem

Junho nos remete aos enamorados e à celebração da diversidade, mas em tempos de extrema direita no poder e pandemia, é preciso ir além do Orgulho LGBTQIA+. Precisamos de empatia e, sobretudo, de solidariedade; de cuidarmos uns dos outros.

O Camarote Virtual Solidário da Agência Aids e a Vaquinha para Mulheres Travesti e Trans de Londrina são algumas dessas ações que nos emociona e nos dá esperança.

Nunca foi fácil, mas a população LGBTQIA+ (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transgêneros, Queers, Intersexos, Assexuais e demais pessoas com sexo-gênero dissidente), desde 2018, com a eleição de um presidente que se autoproclama “homofóbico, com muito orgulho”, tem enfrentado um recrudescimento da violência, do preconceito e da intolerância. Com a chegada do coronavírus, a vulnerabilidade socioeconômica dessa população também se intensificou.

No país que há 13 anos lidera o ranking mundial de assassinatos da população trans, o preconceito e a discriminação estão presentes nas raras vagas de trabalho, em geral limitadas a subempregos, o que leva uma parte considerável da população LGBTQIA+ a buscar atividades autônomas como cabeleireira, faxineira, vendedor ambulante e prostituição. Atividades que foram duramente atingidas pela quarentena, pelo isolamento social e até pelo toque de recolher, medidas importantes e necessárias para tentar conter o vírus.

Dossiê divulgado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em janeiro deste ano, aponta que a maioria das mulheres trans não tiveram escolha a não ser permanecer na prostituição, expostas à violência e ao vírus, pois cerca de 70% dessa população não teve acesso ao auxílio emergencial disponibilizado pelo governo. 

“É um momento delicado, há muitas pessoas em situação de vulnerabilidade e necessitando de comida”, assinala Roseli Tardelli, CEO da Agência de Notícias da Aids, que este ano promove o Camarote Virtual Solidário como parte das ações de comemoração dos 25 anos da Parada LGBT+ em São Paulo.

Roseli Tardelli: a fome não pode esperar. Foto: arquivo pessoal

A agência Aids sempre esteve presente na Parada com ações solidárias, mas com a pandemia o camarote se tornou virtual e sem fronteiras. Neste ano, o tema da Parada de São Paulo, a maior do mundo, é “HIV/AIDS Ame+ Cuide+ Viva+. Assim, além da programação artística, o camarote será um espaço para debates e arrecadação de cestas básicas, via QR CODE, que serão enviadas para portadores de HIV, AIDS, Drag Queens e pessoas LGBT em situação de fragilidade nutricional.

“Espero que possamos contar com o apoio de muita gente para poder ajudar aqueles que estão em uma situação difícil e praticamente passando fome em função da crise que enfrentamos. A fome e a AIDS andam em paralelo e não podem esperar”, destaca Tardelli.

Superação e solidariedade

Rafaella Rocha dos Santos, 33 anos, conhece bem a desafiadora realidade de uma mulher trans no Brasil. Ela está na sua terceira transição. Já foi moradora de rua, foi presa, sofreu vários abusos no sistema prisional e pouco tempo depois que saiu do presídio colocou definitivamente “a Rafaella pra fora”, como ela diz.

Rafaella Rocha, a impulsionadora da Vaquinha para Mulheres Travesti e Trans de Londrina – Foro: arquivo pessoal

Natural de Londrina, no Paraná, Rafaella morou em São Paulo, Rio e retornou à cidade para estudar Geografia na Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Por que Geografia? “Eu queria muito entender a relação de poder que existe não só do Estado como do poder do crime com pessoas gays, pessoas trans e travestis em presídios masculinos. Eu já tinha lido algumas coisas relacionadas com a disciplina e sobre territorialidade, mas a paixão que me levou à Geografia é entender essa microfísica de poder”, responde Rafaella, que planeja trabalhar esse tema em sua tese de mestrado ou doutorado.

A empatia de Rafaella com as mulheres trans e travestis em situação de rua na Zona Norte gerou uma ação solidária que se espalhou pela cidade de Londrina.

“Moro perto da Zona Norte e como já estive em situação de rua tenho muita demanda de amigas e conhecidas nessa situação que sempre passam na minha casa para pedir um prato de comida. Então procuro deixar várias marmitinhas prontas para dar a elas, mas eu também não tenho muita condição financeira, e com a demanda aumentando eu comecei a criar uma vaquinha para isso”, conta Rafaella.

A partir dessa iniciativa, a vaquinha chegou à ­Elity ­Trans e a mais duas outras entidades de movimentos sociais que, juntas, formam uma rede de apoio para mulheres trans e travestis em Londrina. “Cada um contribui com quanto puder, toda ajuda é recebida com muita gratidão”, reforça Rafaella.

Como você pode ajudar

Camarote Solidário Virtual – população LGBTQIA+

A campanha de arrecadação de cestas básicas, shows e entrevistas do Camarote Solidário Virtual será no dia 6 de junho, com live das 12h às 19h, no site e nas redes sociais da Agência Aids. Mas a compra de cesta para doação vai até 26 de junho via QR Code na imagem acima ou pelo link – https://pag.ae/7XaJo4dnR.

Para acompanhar a programação: YouTube; Facebook e site da Agência Aids.

Vaquinha pra mulheres Travesti e Trans de Londrina

As doações são direcionadas às mulheres que necessitam de amparo psiquiátrico, financeiro e material. O dinheiro arrecadado é destinado a cobrir gastos com passagens de transporte para consultas, aluguel, alimentação, produtos de limpeza e higiene pessoal, gás de cozinhas entre outros.

As contribuições são feitas via PIX:

  • Nubank: CPF 06684012907
  • Pagbank: Cel 43996353824

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