Fogo no Parquinho: gabinete paralelo é igual a comer frango pensando que é alcatra

Já tentou comer um delicioso filé de frango, fechar os olhos e pensar que está mastigando um suculento bife de alcatra? Pois é, por mais que os poderes da mente sejam aguçados, uma coisa não se transforma na outra. Na política pública também. Gabinete paralelo não é gabinete oficial e não adianta ficar consultando pessoas avulsas para resolver problemas enquanto mantém as aparências oficiais. A experiência atual já mostrou que é a receita para dar errado.

A CPI da COVID continua surpreendendo e revelando que, no Brasil atual, sempre é possível descer mais fundo e ultrapassar os limites do que é aceitável em termos de mortalidade na pandemia, apologia a remédios sem eficácia comprovada para coronavírus e negacionismo científico. De vez em quando uma ou outra voz sensata que se ouve pelo caminho também, mas passa rápido.

Gabinete paralelo

O chamado gabinete paralelo do governo Bolsonaro, investigado pela CPI da COVID, formado por um grupo de negacionistas e pessoas com interesses escusos à preservação da vida dos brasileiros, vinha atuando no sentido de direcionar políticas públicas de gestão da pandemia. Formado por figuras pitorescas como o ex-ministro Osmar Terra, conhecido por sua defesa da imunização de rebanho e outros absurdos, o gabinete foi responsável por disseminar ideias como o uso da cloroquina como aceitável no tratamento ao vírus.

Médica Nise Yamaguchi defende cloroquina. Imagem: Fotos Públicas

Pró-cloroquina

A apologia à cloroquina não é novidade entre o governo Bolsonaro e o medicamento continua sendo defendido apesar de não haver evidências científicas para essa sustentação. Um dos integrantes desse chamado gabinete paralelo é a médica Nise Yamaguchi, ouvida pela CPI da COVID na última semana. Ela participou de pelo menos quatro reuniões do grupo, conforme apurado pela Folha de São Paulo. Nise é uma defensora do chamado tratamento precoce e do uso da cloroquina.

Manterrupting

Na última semana, o depoimento da médica Nise Yamaguchi foi marcado por um tratamento comum dispensado por homens a mulheres. O chamado manterrupting, quando homens interrompem mulheres desnecessariamente, foi repetido pelo menos 40 vezes durante o depoimento de Nise. Vale salientar que a coluna não concorda com nenhuma palavra do que a médica disse em seu depoimento, mas também não se pode desrespeitar o direito de fala da depoente com interrupções contínuas.

Emenda pior

A emenda pior do que o soneto foi a do empresário Carlos Wizard em defesa de Nise Yamaguchi, ressaltando que ela teria agido como Jesus Cristo na CPI da COVID. Ele ainda acrescentou em post nas redes sociais que a médica é um “anjo de Deus na Terra”. Será que dá mesmo para fazer essas comparações?

Imunização de rebanho

Outro depoimento que deu o que falar durante a última semana foi o de Luana Araújo, que foi cotada para assumir a Secretaria Especial de Enfrentamento à COVID, mas teve o nome descartado pela ala ideológica do governo. Em seu depoimento, Luana, que é infectologista, enfatizou que não existe imunidade de rebanho para o coronavírus, como defendem governistas e o próprio presidente. Para ela, a melhor saída é a vacinação em massa.

Copa América pode ser desastre. Foto: Freepik. Montagem: Elara Leite

Cova América

A Argentina e a Colômbia desistiram, mas o Brasil resolveu que, no auge de mais de 460 mil mortos na pandemia, esse é o momento perfeito para receber a Copa América no País. O presidente Jair Bolsonaro até aproveitou essa grande decisão (contém ironia) para fazer um pronunciamento nacional. Foram registrados os maiores panelaços ouvidos durante uma fala do presidente.

Ameaçada por outdoor

Professora Graciele, vereadora do PT em Sinop, no Mato Grosso, protocolou denúncia no MPF por estar sofrendo ameaças diante de outdoors veiculados na cidade contra o presidente Jair Bolsonaro. Nos outdoors, uma imagem do presidente ao lado da frase “cemitérios cheios, geladeiras vazias”. A região possui forte influência de ruralistas.

Eleições no Peru

Peruanos vão às urnas neste domingo (6), para decidir entre Keiko Fujimori e Pedro Castillo. Pelo que consta, as duas opções são ruins. Keiko é envolvida em escândalos de corrupção e Castillo não tem projeto consistente para o País. Será a eleição do menos pior.