Dia das Namoradas: o amor entre mulheres é real e precisa ser visível

Fabi e a firmina Cibele são casadas

No dia em que comemora-se o tradicional Dia dos Namorados, mulheres (lésbicas, bissexuais, pansexuais, cis e trans), de todo o Brasil comemoram o Dia das Namoradas e, também, o mês do orgulho LGBTQIA+. A celebração do namoro entre mulheres é sobre orgulho, amor e vai além: é sobre escolhas.

O IBGE apontou que o crescimento no casamento entre pessoas do mesmo sexo aumentou 61,7% em 2018 (9.520 registros) e foi maior entre mulheres (5.562) do que em relação a homens do mesmo sexo (3.958). 

Namoro entre mulheres é sobre amor

Dani Castellani e Glau Petenuci

A demonstração de amor entre casais de mesmo sexo ainda é um tabu para a sociedade. Muitos casais de mulheres já sofreram com perseguição em suas próprias redes sociais ao expressarem seus sentimentos publicamente. Amar com liberdade; liberdade para amar.

Amor é amor

Juliana e Roberta

Apelos de amor, fotos nas redes sociais, propagandas repletas de um amor hétero, normativo e aceitável é o que não falta nas propagandas e ações de marketing de Dia dos Namorados. 

As Firminas perguntam: onde está o amor de quem ama alguém do mesmo sexo?Ah! Mas eu vi UMA propaganda com pessoas do mesmo sexo. Viu. Claro que viu. 

Larissa Almeida e Priscilla Xavier

Quando o assunto é demonstração de amor, com orgulho e liberdade de escolha e de vida, em que papel na sociedade as mulheres são colocadas? Têm o direito de ser como e quem são? E como são representadas? Com respeito, amor, donas de suas família e de seus sonhos…?

Quais são os documentos ou as pesquisas que mostram o crescimento deste relacionamento, no Brasil? Seriam elas invisíveis?

Construindo histórias reais

Pensando em documentar o que vê e o que sente, a fotógrafa Fernanda Piccolo Huggentobler (@fernandafotografou) criou o lindo projeto Documentadas (@documentadas), que viaja pelo Brasil (e até fora) fotografando mulheres que se relacionam com outras mulheres, que vivem suas vidas com amor, respeito e muita sinceridade. 

“Costumo dizer que não fazemos um ensaio, porque não estamos fazendo um book fotográfico ou algo do tipo, mas, sim, um registro e uma ilustração da história. As roupas costumam ser confortáveis e neutras, nada muito estampado. Os locais, geralmente, são escolhidos porque têm a ver com a história das mulheres fotografadas. Agora, na pandemia, fazemos tudo com muita segurança, livre de aglomerações. Os locais são escolhidos por elas: o lar, o lugar do pedido de namoro ou onde se conheceram ou, ainda, onde ambas amam ir juntas”, explica.

Fernanda, do Instragram @documentadas, viaja pelo Brasil (e até fora) fotografando mulheres que se relacionam com outras mulheres

A cada clique, uma nova história para contar. Nas redes sociais e no site da Documentadas, Fernanda, que é lésbica, busca dar visão e vazão ao amor que, tantas vezes, tenta ser silenciado pelo preconceito, mas que é real e é maravilhoso… o amor entre mulheres. “Nosso amor é sempre um motivo de comemoração. Deve ser sempre um motivo de resistência e orgulho”, destaca.

Seu olhar em relação à publicidade que pouco enxerga o amor entre as mulheres, possui indagações genuínas e essenciais. “Até que ponto os casais de mulheres que se relacionam com outras mulheres se sentem realmente representadas pelos casais que estão na grande mídia, e de que forma essas empresas que veiculam a imagem de LGBTs no Dia dos Namorados realmente se preocupam com o público LGBT ao longo do ano, ou entre seu quadro de funcionários?”

Rebeca e Francielle

Rebeca e Francielle foram unidas pelo destino

Em um típico romance, onde os encontros e desencontros tornam a trama mais instigante, Rebeca (30) e Francielle (23) nos contam como o amor entre elas nasceu, antes mesmo que pudessem se dar conta disso. 

Coisa de destino, sabe? Quando você tenta fugir de um amor,  mas ele reaparece cada vez mais forte?

Foi no Tinder que as duas se conheceram, mas o papo durou pouco. Tímida e insegura, Fran não conseguiu comparecer ao encontro marcado, e sumiu da vida de Rebeca por (pasmem!) um ano!

Quis o destino que ambas fossem estudantes de Engenharia, que as cidades fossem próximas. Quis ainda, esse danado destino, que a Rebeca se mudasse para a mesma cidade que Francielle, conseguisse vaga apenas na mesma faculdade que sua futura amada, e que um outro app de relacionamento indicasse que sim, elas eram feitas uma para a outra. 

Estudando na mesma faculdade, a aproximação foi mais simples e, para alegria de Rebeca, a Fran tomou a iniciativa. A amizade, a atração e as incríveis afinidades as levaram para um novo patamar: namoradas. 

Mas, inicialmente, como muitas mulheres lésbicas, esse amor foi mantido em segredo, principalmente porque Fran pertencia a uma família religiosa e temia a reação de todos. 

Mas foi durante um passeio em família que Rebeca e Fran foram surpreendidas durante um beijinho no banheiro, às escondidas da família. A irmã mais nova de Fran viu o beijo, e o romance tornou-se público. Foi um “deus-nos-acuda” ao estilo romântico!

Foi preciso que Rebeca se afastasse da família de Fran por, aproximadamente, 3 meses, enquanto o namoro continuava firme.

Será que o destino, que tanto as uniu, agora separaria?

Durante os meses de afastamento, a família de Fran foi amadurecendo a ideia sobre sua relação com uma mulher e, aos poucos, compreenderam o amor que sentiam e viviam. 

Enfim, o amor está vencendo…

Com um ano de namoro estavam morando juntas e, agora, com 3 anos vivendo debaixo do mesmo teto, são puro amor e orgulho! O próximo grande passo é ter um bebê, e já estão verificando as possibilidades de  inseminação que, de acordo com elas, precisa ser mais facilitadas para os casais homoafetivos (alô empresas de inseminação artificial!).

Embora as conquistas sejam muitas, as duas engenheiras, que atualmente residem em Guarulhos, na Grande São Paulo, relatam que sofrem bastante preconceito nesta profissão. Há, ainda, homens da área que as julgam incapazes. Rebeca conta que em um dos empregos que atuou, uma construtora, mesmo sendo ela mais experiente, foi substituída por um homem, recém-formado, pelo simples fato de ser do sexo masculino. Hoje, Rebeca reconhece que aquele lugar tóxico não a faria bem e tem a oportunidade de trabalhar em um ambiente profissional que oferece igualdade e respeito.

Há muito a percorrer

Neste Dia das Namoradas, ainda tão pouco reconhecido, o que esperar? Rebeca e Fran esperam  que o orgulho e o amor, representados de maneira quase que absoluta nos casais héteros, sejam reais em liberdade e direitos para todos os casais, inclusive de mulheres, pois, é de amor, de romance, de cumplicidade e de direitos que estamos falando e vivendo… Amor é amor!

Amor que inspira arte 

História de amor vivida por Nidy inspirou uma exposição de fotos

O amor inspira a arte. Na história da educadora e artista visual Nidy de Oliveira, que atualmente mora em Ribeirão Pires (SP), essa máxima foi traduzida em uma exposição fotográfica baseada em um grande amor por outra mulher, vivido há dez anos. “Foi incrível, belo e resultou na exposição ‘O mar é do tamanho do meu desejo’, com fotos sobre o mar na Bahia de Todos os Santos”, conta. 

Nidy expressou seu amor pela arte, mas não sente que o amor entre mulheres esteja bem representado no Dia dos Namorados. “Hoje estamos de alguma forma ‘aparecendo’ como relacionamento, mas sinto falta de propagandas de presentes sem rótulos. Um dia  chegaremos lá”, analisa. 

Ela conta que quando assumiu ser lésbica para a família, se sentiu entendida e acolhida após muita conversa. O mesmo ocorreu no trabalho, onde o ambiente favorece a diversidade e a certeza de que não há certo ou errado para a arte e para o amor. 

Incomodam, porém, as piadas homofóbicas e machistas sobre o amor entre mulheres, como por exemplo as insinuações de que as lésbicas “apenas não encontraram um homem de verdade” ou os fetiches desnecessários e ofensivos sobre troca de afeto entre lésbicas. “São frases que não significam nada e nem representam amor e respeito”, critica. 

Otimista, ela acha que o caminho para vencer o preconceito é a conversa e o esclarecimento, para que todos possam entender que conhecer o outro é simples e bonito. E para finalizar, lembra que o Dia das Namoradas remete a leveza, doçura e paixão, sentimentos lindos para celebrar a data. “Namorar e enamorar inspiram amor”, finaliza.

Amizade que virou paixão

História de amor entre Ellen e Juliana começou com amizade

A história de amor entre Ellen Paes (38) e Juliana Guimarães (42) começou quando elas se conheceram em uma festa no bairro carioca da Lapa, pouco antes da pandemia de Covid-19. No início, desenvolveram uma amizade cheia de cumplicidade. Ellen – que é bissexual – estava ficando com outra mulher e contou com o apoio da atual namorada para entender melhor a situação. 

Juliana é lésbica, tinha passado pelo fim de outro relacionamento e se apaixonou por Ellen à primeira vista. “Fomos construindo uma amizade e fui me apaixonando aos poucos, pela atenção que ela me dava”, conta Ellen, que chegou a receber uma serenata virtual de Juliana e, a cada dia, se encantava mais e mais com a amiga.

“Passamos a nos falar o dia inteiro, dando força uma para a outra. Ambas somos mães e vivemos toda a dificuldade da maternidade na pandemia. E assim fui me apaixonando aos poucos pela pessoa que a Ju foi se mostrando ser: engraçada, companheira e atenciosa”, recorda.

O primeiro “date” ocorreu em abril do ano passado, com todos os protocolos de segurança  por causa da pandemia. “Demos um passeio de carro pela orla, pois fazia tempo que não víamos o mar. Foi super romântico”, conta. O namoro oficial vai completar um ano em julho.

Representatividade necessária 

Sobre o Dia das NamoradAs, Ellen diz que atualmente se sente mais representada pela data. “O mês do orgulho LBTQIA+ é uma pauta que está fortalecida e as marcas estão dando atenção ao que é falado nas redes sociais. Vemos mais casais de mulheres, de homens, trans e não binários na publicidade”, aponta, lembrando que a representatividade  – mesmo em uma data comercial – é importante para trazer visibilidade e respeito, reforçando a coragem necessária para que pessoas LGBTQIA+ se reconheçam , entendam quem são e qual a vida que querem viver. 

A união de Ellen e Juliana resultou na formação de uma grande família, pois ambas têm filhas de relacionamentos anteriores (Juliana com uma mulher e Ellen com um homem). “É muito legal poder mostrar que nossa existência ‘existe’ e precisa de visibilidade para ser naturalizada e respeitada”, diz.

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