Namoro após os 40: delícias e dificuldades dos relacionamentos maduros

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Foi-se o tempo em que a chegada dos tão temidos “enta” significava o fim da vida sexual e do namoro para as mulheres. Realizadas profissionalmente, independentes financeiramente e bem resolvidas sexualmente, elas deixaram para trás o medo de entrarem em relacionamentos e partem em busca de parceiros, seja pelos meios “convencionais” ou pelos muitos aplicativos de relacionamento tão em voga nos dias atuais.

Mas nem tudo são alegrias nesse novo momento. Para algumas, a dificuldade de encontrar um companheiro esbarra exatamente no fator que as libertou de tabus: a idade. Uma reclamação bastante comum entre mulheres de mais de 40 é a “escassez” de homens disponíveis da mesma faixa etária. Porém, o que parece um problema muitas vezes acaba sendo um fator de reviravolta, e muitas se despem dos preconceitos para encarar parceiros mais novos.

“Um dos motivos para isso é que esses rapazes estão mais disponíveis sexualmente, abertos a novas experiências, são homens que vêm de uma educação um pouco menos machista, com um comportamento não tão centrado ao ato de penetração. Essa mulher já se conhece, se posiciona, sabe o que quer, porque quer e o que não quer e não tem vergonha disso”, observa a psicóloga e terapeuta sexual Erika De Paula. “Relações de homens mais velhos com meninas mais novas sempre foram valorizados, então por que não o contrário? Uma mulher de 50 se relacionando com um homem de 30, adultos e com consentimento, se há desejo, amor e respeito, por que não?”, questiona.

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Namoro maduro: novo momento

Foto: Pexels Maksim Goncharenok

A jornalista Juliana Monteiro Steck, de 46 anos, seguiu o tão famoso padrão esperado para uma mulher: casou aos 22 anos e teve dois filhos, Natalia, de 22 anos, e Felipe, de 19. Mas após 22 anos de relacionamento (contando cinco de namoro) ela encerrou o casamento. “Meu primeiro namorado de verdade foi o pai dos meus filhos. Eu me separei aos 39 anos e não sabia o que era nem paquerar, porque não tive essa fase dos flertes, de brigar e terminar o namoro… Mas não achei complicado, porque meus relacionamentos após o casamento foram bons. Morei com outra pessoa após meu casamento, mas acabou não dando certo porque ele queria filhos e eu não, já tenho os meus, então nossos objetivos eram diferentes”.

Há cerca de um ano e meio Juliana namora Wesley, quase 11 anos mais novo, com quem tem um relacionamento que considera bastante saudável. “Ele também é separado e tem um filho de oito anos. Ele quer uma boa madrasta para o filho e ele é muito bom para meus filhos. Wesley quer curtir a vida comigo, não quer ser meu dono. O homem que busca mulheres de mais de 40 é muito interessante também, a gente tem de aproveitar. A gente tem um outro tipo de beleza, um outro tipo de charme que atrai um outro tipo de homem, e isso é ótimo porque as coisas têm de acontecer com quem é compatível mesmo”, resume.  

Cobrança social

Foto: Freepik

A arquiteta Letícia Medeiros, 40 anos, divorciada há 7, e mãe de dois filhos, iniciou há três meses um namoro com um parceiro de 45, mas concorda que nessa faixa etária há menos homens disponíveis para relacionamento. “Tenho a impressão que existem mais pessoas comprometidas. E no caso da mulher existe uma cobrança tácita da sociedade sobre a juventude, então isso afeta o ideal masculino de parceira, que acaba residindo em corpos jovens. Com isso temos muitos homens que privilegiam o relacionamento com mulheres muito mais jovens e evitam as mulheres de faixa etária próxima a deles”, observa.

Para ela, uma boa opção para encontrar um namorado são os aplicativos de relacionamento, tomando alguns cuidados para não cair em armadilhas. “Muitas histórias felizes começam por aí. Também acho que é necessário estar aberta e confiante de que é possível viver uma linda história de amor, acreditar e criar boas condições para que ela aconteça. Não há idade certa para o amor acontecer, mas algumas vezes colocamos, até mesmo inconscientemente, barreiras, então é preciso removê-las”.

Sinceridade acima de tudo

A jornalista Andréa Mello Diniz, 46, mãe de um filho de 21, engravidou de um “ficante” com quem não deu certo o namoro, e depois ficou casada por dez anos, encerrando o relacionamento em 2012. Em busca de um novo namorado, ela acabou conhecendo um homem no começo de 2013 com quem teve uma relação ioiô, “mais tempo junto do que separado”, até outubro de 2019, que nunca a assumiu como namorada. Instigada por um amigo, em outubro do mesmo ano entrou em um aplicativo de namoro e aí “vou contar que a ladeira é íngreme”.

“O maior problema para encontrar um homem da mesma faixa etária é a bagagem emocional que ele traz do seu passado. Tem os solteiros com uma visão muito distorcida do que é relacionamento, têm aquele ideal da ‘liberdade acima de tudo’. E tem aqueles que vieram de relações super ruins e não sabem se relacionar, além de terem um pouco daquele viés machista de que mulher não pode ser muito livre, não poder ser muito independente… Fora os casados que só contam a verdade após saírem com você ou que simplesmente somem”, reclama.

Para ela, a sinceridade é o elemento primordial de uma relação. “Eu coloco algumas travas na hora de escolher um parceiro. Por exemplo, meu filho é adulto, super independente, então não quero me relacionar com quem tenha criança. Isso seria uma trava porque já tenho meu tempo livre e quero alguém que tenha a mesma medida. Pode parecer um pouco de egoísmo, mas a partir do momento que delimitei aquilo que eu quero, não vou me frustrar lá na frente”, explica. “No momento saí dos aplicativos, mas sempre deixo claro em meu perfil que quero um relacionamento sério e não aberto, porque gosto de lealdade. Isso para mim é uma coisa muito prática porque consigo dizer aquilo que quero realmente”, finaliza.