Sororidade e feminicídio passam a fazer parte do guia ortográfico Volp

O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) traz mil novas palavras, com a inclusão de termos como sororidade e feminicídio

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Sororidade é uma das novas palavras incluídas no Volp – Foto por Junior REIS em Unsplash

O Volp – Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – ficou mais feminista. A sexta edição do guia da Academia Brasileira de Letras inclui palavras como sororidade e feminicídio, que já fazem parte do vocabulário e do imaginário da população brasileira, mas ainda não estavam oficialmente registrados na publicação.

O Volp traz uma lista de 382 mil palavras grafadas em sua forma correta.A nova edição está disponível para consulta online, no site da academia. O conteúdo pode ser acessado também pelo aplicativo oficial do Volp (disponível no Google Play e na App Store). Essa é a primeira atualização da publicação desde a 5ª edição, lançada em 2009.

O Néias – Observatório de Feminicídios comentou o fato em seu terceiro Informe. “Recebemos a boa notícia de inclusão do termo feminicídio no Vocabulário da Língua

Portuguesa da Academia Brasileira de Letras. Nossa luta por transformações sociais passa também pela disputa da língua. Nomear coisas e fenômenos sociais confere poder aos sujeitos impactados. Nós, mulheres, demos nome a esses atos covardes pelos quais homens e instituições tomam mulheres como objetos passivos e atentam contra nossa vida: feminicídio!”

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O que é o Volp?

O Volp é uma publicação da Academia Brasileira de Letras que descreve a grafia correta das palavras de acordo com a regra formal da língua portuguesa. Não é um dicionário, pois não explica o significado das palavras. Porém, é um guia muito útil porque mostra o jeito certo de escrever.

A sexta edição da publicação traz mil palavras novas, incluindo estrangeirismos, além de correções e informações complementares nos verbetes, como acréscimos de ortoépia, diversas possibilidades de plural e, apenas em alguns casos, para desfazer dúvidas e ambiguidades, a indicação de homonímia, paronímia e significado.

Novas palavras

Além dos termos feminicídio e sororidade, a sexta edição do Volp traz a grafia correta de outras palavras que já fazem parte das conversas brasileiras, como telemedicina, ciberataque, judicialização, pós-verdade, negacionismo, necropolítica, gentrificação e ciclofaixa. O guia estabelece ainda a grafia correta para covid-19 que, agora, oficialmente passa a ser escrita com letra inicial minúscula no Brasil. 

O Volp traz ainda uma lista de estrangeirismos comuns na língua portuguesa, como botox, bullying, compliance, crossfit, home office, lockdown, podcast e emoji. 

Atualização das palavras reflete mudanças da sociedade 

A Associação Brasileira de Letras explica em seu site que o Volp foi atualizado com o objetivo de oferecer ao público uma edição em dia com a evolução da língua, de modo a refletir as mudanças da sociedade.

O trabalho foi feito pela Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ABL, por meio da reunião de novos vocábulos colhidos em textos literários, científicos e jornalísticos ou recebidos como sugestão por quem consulta o Volp.

Muitos dos acréscimos feitos no Volp se referem a termos oriundos do desenvolvimento científico e tecnológico, do contexto da pandemia do novo coronavírus, do registro mais abrangente de nomes de povos indígenas, assim como de termos técnicos das diversas áreas do conhecimento e novos vocábulos de uso comum, sempre de acordo com os critérios de formação de palavras da língua-padrão.

Firminas explicam

Você sabe o que é sororidade? É uma palavra que tem origem no latim sóror e significa “irmãs”. No contexto atual, conforme explicação do site Politize, tem a ver com o comportamento de não julgar outras mulheres e, ainda, ouvir com respeito suas reivindicações. Esse sentimento relaciona-se com empatia e implica em cada mulher se colocar no lugar da outra para entender sua realidade e seus problemas. 

Já a palavra feminicídio passou a fazer parte do vocabulário da língua portuguesa por força da lei. Esse crime relaciona-se ao assassinato de uma mulher pelo simples fato dela ser mulher e entre os motivos comuns que provocam o feminícidio está a falsa ideia de que os homens são proprietários das mulheres e por isso podem agredi-las e matá-las sempre que são contrariados. 

A lei que define o feminicídio no Brasil é a Lei 13.104/2015. De acordo com ela, o assassinato que envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher é uma qalificadora do crime de homicídio. A lei inclui também o feminicídio na categoria de crime hediondo.