Historiadoras brasileiras que ocuparam espaços e transformam a narrativa

Homenageamos historiadoras brasileiras que “fazem história” em diferentes áreas, para celebrar o Dia do Historiador

Em 19 de agosto celebra-se o Dia do Historiador, homenagem aos profissionais da área que em referência ao diplomata pernambucano Joaquim Nabuco, um dos principais líderes abolicionistas no Brasil. 

Como o acesso à educação e à ciência sempre foi difícil para as mulheres no Brasil, elas demoraram a ocupar o mundo acadêmico. Elas não tinham acesso a oportunidades educacionais, especialmente as negras e as indígenas, que muitas vezes foram invisibilizadas ou apagadas.

Em 1879, foi criada a Lei Saraiva, que permitiu pela primeira vez que as brasileiras tivessem acesso aos cursos superiores, mas nesse período poucas ingressaram. Entre as barreiras, as questões culturais, religiosas e os preconceitos familiares. Geralmente, as mulheres permaneciam na formação das Escolas Normais e seguiam para a docência no ensino primário.

Historiadoras pioneiras 

O acesso mais expressivo das mulheres às universidades veio a partir da década de 1930, com o decreto Nº 19.851, que criou as Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL). Assim, despontaram as primeiras historiadoras brasileiras – que ingressaram nos cursos de História e realizaram suas atividades como docentes entre 1940 a 1970, tais como: Alice Pfifer Canabrava,  Déa Fenelon, Emília Viotti da Costa, Eulália Lobo, Helga Piccolo, Maria Bárbara Levy, Olga Pantaleão, Mafalda Zemella, Maria Cecília Westphalen, Maria Yedda Leite Linhares, Myriam Ellis, Aydil Pires.

Uma trajetória de destaque é a de Maria Beatriz Nascimento, que nasceu na capital de Sergipe, Aracajú, em 1942. Intelectual, professora, poeta e ativista negra, era também migrante nordestina no Rio de Janeiro, foi pioneira no pensamento histórico dos saberes, territórios e cultura africana e uma das principais especialistas em quilombos. Também foi responsável pelo renascimento do Movimento Negro Contemporâneo nos anos 1970. Fez o documentário “Ori”, em 1989, e a obra coletiva “Negro e cultura no Brasil”, em parceria com Helena Theodoro e José Jorge Siqueira. 

Vítima de feminicídio 

Quando tinha 52 anos, enquanto fazia o seu mestrado, defendeu uma amiga contra um namorado violento e foi assassinada com cinco tiros por esse homem, Antônio Jorge Amorim Vianna, em um bar de Botafogo.

Historiadoras brasileiras contemporâneas para acompanhar

Atualmente há mulheres historiadoras que trabalham em várias frentes como pesquisadoras, escritoras, movimentos sociais, salas de aulas, gestões internacionais e que olham as questões do passado com reflexões e denúncias. Assim, ampliam o pensamento sobre a realidade brasileira e contribuem com a disseminação do conhecimento em linguagem acessível ao público, por meio de publicações, palestras e ferramentas de divulgação. 

Fizemos uma lista de historiadoras para seguir e aprender mais

Aline Rochedo Pachamama  

Indígena da etnia Puri da Mantiqueira, é historiadora, escritora e ilustradora. Doutora em História Cultural pela UFRRJ. Mestre em História Social pela UFF, idealizadora da Pachamama Editora, formada por mulheres indígenas. Aline Rochedo Pachamama divulga a cultura, luta em defesa dos Povos Originários e causas ambientais. Por meio da sua editora publicou o livro “Boacé Uchô” (significa “Palavra-terra”, “Palavra que pulsa” significa “Palavra-terra”, “Palavra que pulsa”), que registra o relato de vários representantes do povo Puri da região da Serra da Mantiqueira. Também publicou  “Guerreiras”, que conta a realidade de mulheres indígenas no contexto urbano e na aldeia, bem como suas conquistas, desafios e alegrias. A obra traz informações sobre etnias, oralidade e a memória, com dados estatísticos e particularidades. 

Ana Flávia Magalães Pinto

A primeira negra professora universitária do departamento de História da Universidade de Brasília. Desenvolve pesquisas com conhecimentos das áreas de História, Comunicação, Literatura e Educação, com ênfase em: atuação político-cultural de pensadores/as negros/as, imprensa negra, abolicionismos e experiências de liberdade e cidadania negras no período escravista e no pós-abolição no Brasil e em outros pontos da Diáspora Africana. Ela é autora de “Imprensa negra no Brasil do Século XIX”, “Pensadores negros – pensadoras negras, Brasil, séculos XIX e XX” com Sidney Chalhoub e  “Escritos de liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista”.  

Giovana Xavier 

Giovana Xavier é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e criadora do Grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras. Formada em história, tem mestrado, doutorado e pós-doutorado pela UFRJ, UFF, Unicamp e New York University. Ativista científica, tutora e coordenadora de ações variadas de ensino, pesquisa e extensão em áreas como estudos feministas negros, ensino de história, reeducação das relações raciais, história da escravidão e do pós-abolição. Também autora de obras como: “Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando sua própria história”, da biografia “Maria de Lourdes Vale Nascimento: uma intelectual negra do pós-abolição”, “História Social da Beleza Negra”, entre outros.

Lilia Schwarcz

Antropóloga, historiadora, professora da USP e de Princeton, também curadora adjunta do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Lilia Scwarcz é autora de livros como: “O espetáculo das raças”, “As barbas do imperadora” (em que ganhou o prêmio Jabuti), “Brasil: Uma Biografia” (com Heloisa Mugel Starling), “Sobre o Autoritarismo Brasileiro”e de “Enciclopédia Negra”.

Luciana da Cruz Brito 

Historiadora negra, graduada pelo curso de História da Universidade Federal da Bahia, doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e atualmente é professora na Universidade Federal do Recôncavo Baiano. Atua na área de história atlântica, com ênfase em história da escravidão nos Estados Unidos e Brasil. A obra de Luciana da Cruz Brito “Temores da África: segurança, legislação e população africana na Bahia oitocentista” venceu  o prêmio Thomas Skidmore, promovido pelo Arquivo Nacional e pela Brazilian Studies Association (BRASA), em 2019.