Paralimpíadas em Tóquio: vamos falar sobre capacitismo?

Com o início dos jogos Paralímpicos em Tóquio neste dia 24 de agosto, Nana DAtto faz um convite: que tal torcer pelos atletas brasileiros com força e empolgação, mas sem capacitismo?
Delegação brasileira na abertura das Paralimpíadas em Tóquio – Foto: CPB

Por Nana Datto

Com o início dos jogos Paralímpicos em Tóquio neste dia 24 de agosto, surge a oportunidade de fazer um convite: que tal torcer pelos atletas brasileiros com força e empolgação, mas sem capacitismo? 

Para quem não sabe, capacitismo é o nome dado ao preconceito contra a pessoa com deficiência (PCD). O termo não refere-se apenas apenas à limitação da presença das PCDs em todos os âmbitos da sociedade, mas também à crença de que uma pessoa com deficiência não tem capacidade para levar uma vida independente e plena.

O capacitismo ainda se revela quando exageramos na exaltação das qualidades de uma PCD que se destaca em algum setor, elevando-a à categoria de herói. Esse comportamento é muito comum em tempos de paralimpíadas, quando nossas atenções se voltam a esses atletas que – como qualquer outro atleta – superaram desafios e limites para estarem presentes na maior competição esportiva mundial. 

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Como vibrar com as paralimpíadas sem reproduzir capacitismo?

Minha primeira dica é que você se interesse sobre a rotina, o cotidiano e os diferentes aspectos da vida dos nossos atletas paralímpicos, sem focar apenas na deficiência. 

Como eu sempre digo em minhas palestras, a deficiência é uma aspecto da vida das PCDs, mas não define quem somos. Afinal, somos todos diferentes, com necessidades diferentes, mas direitos iguais. 

Não trate nossos paratletas como “guerreiros” ou “coitadinhos”. Nossa equipe é formada por 259 atletas que vão competir em 20 das 22 modalidades do programa dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. 

Teremos representantes em atletismo, bocha, canoagem, ciclismo, esgrima em cadeira de rodas, futebol de 5, goalball, halterofilismo, hipismo, judô, natação, parabadminton, parataekwondo, remo, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas, tiro com arco, tiro esportivo e vôlei sentado. 

Com tantos atletas em tantas modalidades diferentes, não faz sentido você continuar achando que são todos iguais, certo? 

E tem mais. O Brasil já conquistou 301 medalhas em jogos paralímpicos: foram 87 de ouro, 112 de prata e 102 de bronze. O país está entre os 20 países que mais medalharam em toda a história dos Jogos Paralímpicos. Com as 301 medalhas no total, o país está na 19ª colocação do quadro de medalhas baseado na quantidade geral de pódios. Um resultado desses certamente não foi conquistado por “pobres coitados”. 

Esporte para todos

O Comitê Paralímpico Brasileiro destaca que a prática de atividades físicas proporciona a todas as pessoas a  melhoria na saúde global, aumento da resistência física e imunidade, melhora da qualidade de vida, do humor e da autoestima. Para as pessoas com deficiência, somam-se a estes benefícios o aumento da autonomia e acesso a ambientes que proporcionam o contato com pessoas de realidades e objetivos semelhantes.

“Outro desdobramento ímpar da adesão ao esporte é a possibilidade de escrever o nome na história, superando recordes, vencendo campeonatos e recebendo o devido crédito por tais conquistas”, destaca o CPB em artigo para divulgação do Manifesto Paralímpico lançado no Dia Internacional das Pessoas com Deficiência/2020, celebrado em 3 de dezembro.

Convido você a ler o manifesto dos atletas, refletir sobre o que ele significa e se preparar para torcer com muita empolgação, deixando o capacitismo para trás!

MANIFESTO PARALÍMPICO

Não somos iguais. Ninguém é. 

Cada um tem características que o tornam único. 

Mas por que nos olham diferente?

Por que duvidam das nossas capacidades? 

Por que nos chama de heróis quando, na verdade, estamos fazendo as mesmas coisas que você, mas do nosso jeito?

 Só queremos viver em paz com nosso corpo, com as perfeições das nossas imperfeições.

Aprendemos a respeitar e a amar nosso corpo, olhar no espelho e abraçar a imagem que ele nos devolve.

É um processo. 

Aprendemos a nos adaptar para fazer tudo o que queremos. 

Mas ao seu olhar julgador e com pena não nos adaptaremos.

E não é porque algumas deficiências não são aparentes para você, que nós não temos uma. 

Às vezes, algumas barreiras aparecem para atrapalhar. 

Seu preconceito, sua desconfiança, sua superproteção, seu local não acessível para nós. 

A nossa deficiência não nos define. 

Ela é uma parte do que somos, uma característica.

Somos mais que cadeiras de rodas, próteses e bengalas. 

Também somos mais que óculos, dardos, bolas, bicicletas e raquetes. 

Nós treinamos, vencemos, perdemos, choramos, sorrimos, influenciamos e também somos influenciados. 

Queremos o seu respeito e sua empatia. 

Fazemos parte de um movimento que só cresce no Brasil e no Mundo. 

Um movimento que busca a cada dia e a cada medalha, espaço, inclusão e reconhecimento. 

Somos o Movimento Paralímpico!