Mulheres que Inspiram: Nísia Floresta, educadora e escritora feminista no Brasil Império

Nísia Floresta foi uma lutadora pelo direito das mulheres serem alfabetizadas e a estudarem as mesmas coisas que os homens numa época em que elas não tinham direito a praticamente nada

Mulheres que Inspiram: Nísia Floresta
Sua obra mais falada: Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens, publicado em 1832

Considerada uma mulher à frente do seu tempo, Nísia Floresta nasceu no Rio Grande do Norte em 1810. Foi escritora e educadora, dirigiu um colégio para mulheres no Rio de Janeiro e escreveu 15 livros nos quais defendeu os direitos das mulheres, dos indígenas e dos escravizados. Também participou ativamente das campanhas abolicionista e republicana.

Tudo isso a partir dos anos 20 do Século 19, num Brasil Imperial, uma época em que as discussões em torno da mulher eram sobre sua inferioridade em relação ao homem, elas estavam alijadas de qualquer possibilidade de ascensão intelectual. O mundo das mulheres se limitava ao mundo doméstico. Direitos como o de votar, trabalhar fora sem precisar de autorização do marido, de herdar bens sem um tutor masculino só foram conquistados – e duramente conquistados – cem anos depois.

Nísia Floresta é mais uma nessa história de mulheres brasileiras que há pouco começou a ser contada. Mal conhecemos seu rosto e sua história, mas, de acordo com a professora de literatura da UFMG, Constância Lima Duarte, todos que dela se aproximam se encantam, pois há mais de duzentos anos “nascia uma mulher que seria exceção de todas que nasceram no seu tempo”, destaca a professora estudiosa da obra de Nísia.

Ousadia e defesa da educação para meninas

A grande preocupação de Nísia Floresta foi a educação de meninas, uma importante bandeira das poucas mulheres que tiveram acesso à educação e tinham consciência do universo de analfabetas que predominava na época.

Desde 1830 Nísia publicava artigos em jornais da grande imprensa no Recife, depois no Rio de Janeiro, o que pode ser considerado bem ousado se pensarmos nas dificuldades enfrentadas por essas mulheres diante de sociedade patriarcal que não reconhecia o direito das mulheres de aprenderem a ler, menos ainda de divulgarem sua opinião. “Daí a inserção comum do uso de pseudônimos, Nísia Floresta Brasileira Augusto era um belo pseudônimo para Dionísia Gonçalves Pinto, o seu verdadeiro nome”, ressaltou a professora Constância em sua palestra sobre Nísia, que pode ser encontrada na íntegra no YouTube.

Se cada homem, em particular, fosse obrigado a declarar o que sente a respeito de nosso sexo, encontraríamos todos de acordo em dizer que nós somos próprias se não para procriar e nutrir nossos filhos na infância, reger uma casa, servir, obedecer e aprazer aos nossos amos, isto é, a eles homens… Entretanto, eu não posso considerar esse raciocínio senão como grandes palavras, expressões ridículas e empoladas, que é mais fácil dizer do que provar.

Nísia Floresta

Direitos das mulheres, injustiça dos homens

O primeiro livro que Nísia Floresta publicou, em 1832, foi “O direito das mulheres e a injustiça dos homens”. A obra trata dos direitos que as mulheres deveriam ter e a injustiça dos homens em não os reconhecer. Estamos falando de direitos básicos como o da mulher ser considerada um ser inteligente, um ser dotado de razão, de ter o direito de aprender a ler, o direito fundamental de ir à escola.

A mesma luta que, 180 anos depois, em 2012, levou a jovem Malala Yousafzai, do Paquistão, a ser alvejada na cabeça por um atirador do grupo do Talebã, enquanto voltava da escola com amigas em um ônibus.

Colégio Augusto

No Rio, em 1838, Nísia fundou o Colégio Augusto, para meninas, um dos principais da Corte. Nele ela ousava oferecer às meninas um ensino de qualidade similar ao dos meninos: passou a ensinar gramática, escrita e leitura do português, francês e italiano, ciências naturais e sociais, matemática, música e dança. Também as ensinava a lutarem pelos seus direitos, não serem apenas donas de casa e a serem tratadas com respeito.

Esse espírito contestador e libertário escandalizava seus conterrâneos e gerações futuras, como o do escritor Gilberto Freyre, que a  descreveu como uma exceção escandalosa de seu tempo.

[…] não nos iludamos com a participação da mulher na vida intelectual do primeiro reinado e mesmo do segundo: o que houve foi uma ou outra flor de estufa. Tanto que Nísia Floresta seria um escândalo para a sociedade brasileira de seu tempo.

Fortemente influenciada pelo filósofo Augusto Comte, pai do positivismo, com quem conviveu durante suas viagens à Europa, Nísia Floresta entendia as mulheres como importantes figuras sociais, dotadas de uma identidade fundamental para o crescimento das sociedades.

Nísia morreu na cidade francesa de Ruão em 24 de abril de 1885, aos 74 anos, vitima de pneumonia. 

Sala Azul do Museu Nísia Floresta, na cidade Nísia Floresta, Rio Grande do Norte
Sala Azul do Museu Nísia Floresta, em Nísia Floresta, RN

Uma cidade, um museu

Hoje Papari, o município em que ela nasceu, chama-se Nísia Floresta. Na cidade, há ainda o Museu Nísia Floresta, um espaço de preservação e difusão da memória e história da escritora e um espaço de acesso e incentivo à produção educativa e cultural da cidade. 

Para saber mais:

Livro Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo

Veja também:

Mulheres que Inspiram

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