Fogo no Parquinho: misoginia é a cereja do bolo da política

Fogo no Parquinho: a misoginia na política brasileira
A ex-presidenta Dilma Roussef coleciona episódios de ataques misóginos – foto: Fotos Públicas

O parquinho continua pegando fogo na política brasileira. A CPI da COVID-19 não consegue chegar a um consenso sobre quais acusações serão apontadas ao presidente Jair Bolsonaro, governadores e prefeitos já começam a pensar em réveillon e carnaval sem máscara e o País continua tendo média de 400 mortos pelo coronavírus todos os dias.

            Se a pandemia ainda não tinha sido naturalizada por completo, agora está mais perto do que nunca o “novo normal”. Em São Paulo, inclusive, as aulas presenciais já voltaram com 100% da capacidade nas escolas. A despeito de tudo isso, outro fato que chamou atenção nos últimos dias foram as tantas demonstrações de misoginia de políticos brasileiros em vários lugares do País.

Distribuição de absorventes

            Há pouco mais de uma semana, o presidente Jair Bolsonaro vetou trechos de projeto que, entre outros itens, previa distribuição gratuita de absorventes e que foi aprovado pelo Senado. O projeto, de autoria da deputada Marília Arraes (PT-PE) e de outras 34 parlamentares, teria um custo de R$ 84 milhões por ano. Os valores para arcar com a distribuição viriam de fundo específico, de acordo com o projeto.

Pobreza menstrual

            Com a pandemia, a pobreza menstrual, problema grave enfrentado por mulheres de baixa renda em países em desenvolvimento, tornou-se ainda mais visível. Nesse período, muitas famílias perderam boa parte da pouca renda que ainda tinham e, com isso, é preciso muitas vezes escolher entre comer e ter uma boa higiene íntima. Além disso, uma em cada quatro meninas faltam aulas por não terem acesso a absorventes.

Misoginia I

            A vereadora soteropolitana Marta Rodrigues (PT-BA), repudiou o veto e afirmou que o caso é de misoginia e descaso com a inclusão social. Ela é presidente da Comissão de Direitos Humanos e de Defesa da Democracia da Câmara Municipal de Salvador. A vereadora cearense Larissa Gaspar (PT-CE), também criticou a postura do presidente ressaltando a falta de sensibilidade do presidente.

14 Estados

            Atualmente, 14 Estados possuem programas de distribuição gratuita de absorventes em funcionamento ou em fase de aprovação. Na Bahia o programa começa a funcionar a partir de novembro e irá beneficiar estudantes das escolas da rede estadual de ensino, mesmo modelo adotado pelo Ceará, cujos absorventes estão em fase de licitação. Na Paraíba, após veto, a lei de distribuição gratuita foi sancionada em setembro e aguarda decreto para regulamentação. Somente nesses três Estados, a estimativa é que sejam atendidas mais de 1 milhão de pessoas.

Senadoras pela derrubada do veto

            As senadoras já se pronunciaram a favor da derrubada do veto. Nomes como Zenaide Maia (Pros-RN), que foi a relatora do Projeto de Lei; Eliziane Gama (Cidadania-MA) e a líder da bancada feminina, Simone Tebet (MDB-MS), ressaltaram o desconhecimento da condição feminina por parte do presidente e a falta de empatia do Chefe do Executivo sobre as questões relativas às mulheres em um País com mais da metade da população formada por elas.

Notificado por assédio

            Após seis meses de tentativas de notificar o deputado suspenso da Alesp, Fernando Cury (Cidadania-SP), o TJ-SP conseguiu encontrá-lo em Botucatu, SP. Com a notificação formalizada, a denúncia de assédio sexual da deputada Isa Penna (PSOL-SP) terá seguimento. O deputado voltou aos trabalhos na Alesp há pouco mais de uma semana. 

Misoginia II

            Ciro Gomes (PDT-CE), como sempre, tenta se projetar como um candidato viável desgastando outros atores políticos. Os alvos mais comuns, naturalmente, são ligados ao PT. Na última semana, aproveitou para atacar a ex-presidente Dilma Rousseff (PT-RS), dizendo em seu Twitter que foi um erro ter lutado contra o impeachment dela, segundo ele, uma mulher “incompetente, inapetente e presunçosa”.

Saldo negativo

            Após o episódio, o Ciro Gomes perdeu 2 mil seguidores no Twitter, enquanto Dilma Rousseff ganhou 10,2 mil novos adeptos na rede. Dilma, aliás, respondeu como uma diva: “Este é o pecado de sua enorme presunção. Esta é a sua visão quando se trata de avaliar o resto da humanidade. Mas, quando se trata de mulher, sua visão não é só inadequada, é também profundamente misógina”.

Misoginia III

            Aliás, ataques a parlamentares mulheres e petistas estão cada vez mais comuns, como os que vêm ocorrendo na Câmara de Vereadores de Piracicaba (SP), contra a vereadora Rai de Almeida (PT-SP). Única parlamentar de esquerda na casa legislativa, a parlamentar vem sofrendo ataques misóginos como interrupções constantes em suas falas e episódios de mansplanning.

Aos mestres (e mestras), com carinho

            O dia dos professores foi na última semana, mas não poderíamos deixar de registrar que, muito antes da data ser tornada feriado nacional, uma deputada catarinense foi a autora do primeiro projeto de lei para criar a data. Antonieta de Barros, filiada ao então Partido Social Democrático, foi a primeira mulher negra a ser eleita. Confira mais sobre a história dessa mulher na matéria da Andréa Mesquita, aqui mesmo no Portal Firminas, neste link.

Vereador neutre

            O vereador Marcos Henriques (PT-PB), resolveu adotar a linguagem de gênero neutra em todas as suas comunicações na Câmara de Vereadores de João Pessoa, capital da Paraíba. Para ele, utilizar linguagem neutra é uma questão de humanização. Ponto para ele.