Chile: governo terá 14 ministras e uma primeira-dama feminista

A revolução feminista na América Latina começou. Boric governará o novo Chile com uma equipe majoritariamente formada por mulheres comprometidas com mudanças sociais

Borac, presidente do Chile, ao lado de 14 mulheres ministras e 10 ministros portando máscaras e postados na escadaria de um palácio, sendo fotografados por repórteres
Borac apresenta seu novo ministério, formado por 14 ministras e 10 ministros

Celebrando o resultado das urnas, em 19 de dezembro passado, o presidente eleito do Chile, Gabriel Boric, fez um agradecimento especial às mulheres chilenas e afirmou que elas seriam protagonistas do novo governo. Nesta sexta, 21 de janeiro, o anúncio da composição ministerial do novo governo não decepcionou: serão 14 mulheres ministras e 10 homens.

E mais: uma dessas mulheres, Maya Fernández Allende, assume o comando do Ministério da Defesa. O mesmo ministério que depôs e matou o avô dela, Salvador Allende.

Essa nomeação de Maya tem um valor simbólico para o Chile, que passa pela construção de uma nova Constituição para substituir a imposta em 1973, quando as Forças Armadas chilenas bombardearam o Palácio de La Moneda onde esteva o então presidente Salvador Allende  e consumaram um sangrento golpe de estado. Em seu novo cargo, Maya estará à frente dos três ramos das Forças Armadas

“Agora cabe a todos nós trabalhar para tornar a vida em nossa pátria cada vez mais justa”, escreveu Maya em seu Twitter, agradecendo a indicação ao cargo.

“Uma pátria cada vez mais justa”, ressalta Maya Fernández Allende – Foto: Wikimedia Commons

A revolta popular no Chile

Desde 2019, o Chile vem sendo palco de um dos maiores levantes sociais da América Latina, conhecido como Estalido Social. Em outubro daquele ano, milhares de chilenos tomaram as ruas de Santiago para protestar contra o aumento da passagem de metrô. Os atos rapidamente aumentaram e novas demandas sociais foram incluídas, exigindo uma reforma da atual Constituição, promulgada durante a ditadura militar de Augusto Pinochet (1973 – 1990).

O movimento feminista foi um dos protagonistas da revolta social e a chamada “Maré Violeta” levou multidões às ruas reivindicando Igualdade salarial, fim da violência doméstica e o direito ao aborto.

A pressão popular conquistou a convocação de uma Constituinte, aprovada em plebiscito, para a redação de uma nova Carta Magna, que deve ser aprovada até julho, e levou o candidato da esquerda, Gabriel Boric, à vitória da eleição presidencial em 2021.

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Primeira-dama: trabalhar pelo Chile e sua diversidade

Boric mantém um relacionamento afetivo há três anos com a antropóloga e cientista social Irina Karamanos, 32 anos. Ela é coordenadora nacional da Frente Feminista da Convergência Social, que integra frente ampla antifascista que elegeu o novo presidente. Como primeira-dama, Irina já anunciou uma reformulação no cargo.

“Como feminista também creio que esse lugar – que parece contraditório assumir como feminista – na realidade é sobretudo um desafio que podemos aproveitar para falar de diferentes questões e mostrar uma nova forma de habitar o poder”, afirmou Irina à imprensa. Entre as questões que priorizará estão as crianças trans e migrantes.

“Coloco-me à disposição deste projeto para trabalhar em benefício do Chile e sua diversidade, e fazendo isso com um papel menos caritativo (…) para poder usar a plataforma para tornar visíveis grupos que se tornaram invisíveis”, acrescentou.

Vamos ocupar este espaço por que queremos tematizar que as mulheres podem estar no poder e contribuir com projetos transformadores

Irina Karamanos
Ações relacionadas crianças trans e migrantes serão prioridades para o trabalho de primeira-dama, diz Irina. Foto: Twitter @i_krmns

As Ministras Mulheres

1.Ministério do Interior e Segurança Pública:  Izkia Siches.

2.Secretária Geral/Porta-voz do governo: Camila Vallejo.

3.Ministério do Trabalho e Previdência Social: Jeannette Jara.

4.Ministério das Relações Exteriores: Antonia Urrejola.

5.Ministério da Defesa Nacional: Maya Fernández.

6.Ministério do Desenvolvimento Social e Família: Jeannette Vega.

7.Ministério da Justiça e Direitos Humanos: Marcela Ríos.

8. Ministério da Saúde: María Begoña Yarza.

09.Ministério de Minas: Marcela Hernando.

10.Ministério do Patrimônio Nacional: Javiera Toro.

11.Ministério do Meio Ambiente: Maisa Rojas.

12.Ministério do Esporte: Alexandra Benado.

13,Ministério da Mulher e da Equidade de Gênero: Antonia Orellana.

14. Ministério das Culturas, Artes e Patrimônio: Julieta Brodsky.

O novo governo tomará posse no próximo dia 11 de março.

Gabriel Boric – Foto da Campanha Presidencial

Quem é Gabriel Boric

Gabriel Boric, 35 anos, ex-líder estudantil, é o presidente mais jovem e que recebeu mais votos na história do Chile. Estudou na Faculdade de Direito da Universidade do Chile e foi presidente da federação de estudantes da universidade em 2012. Foi eleito deputado pela primeira vez em 2013 e reeleito em 2017, representando a Região de Magalhães, sul da Patagônia.

Indicado como candidato à presidência do Chile pela aliança Apruebo Dignidad, formada pela Frente Ampla e o Partido Comunista do Chile, Boric perdeu no primeiro turno, mas, no segundo, recebeu apoio de toda centro-esquerda chilena e venceu o candidato extremista de direita, o pichonetista José Antonio Kast, por 55,85% dos votos válidos. Kaste obteve 44,15%.

“Em nosso governo, o compromisso com a democracia e os direitos humanos será total, sem apoio a nenhum tipo de ditadura e autocracia, doa a quem doer”, postou Boric recentemente em seu twitter.

Com informações da AFP, EFE e CNN

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