Janeiro Branco: esclareça dúvidas sobre como manter uma boa saúde mental

Para celebrar a campanha Janeiro Branco, convidamos a psicóloga Emanuelle Camelo para debater sobre os caminhos para manter uma boa saúde mental 

Janeiro Branco: esclareça dúvidas sobre como manter uma boa saúde mental
A psicóloga Emanuelle Camelo responde perguntas sobre saúde mental. Foto: Divulgação

O Brasil é o país mais ansioso do mundo, de acordo com  a Organização Mundial da Saúde (OMS). Pesquisa feita pela instituição aponta que pelo menos 9% da população convive diariamente com o transtorno de ansiedade, o que corresponde a aproximadamente 19 milhões de pessoas. 

Outra doença muito recorrente entre os brasileiros é a depressão, que atinge 5,8% da população. Chamar a atenção para a importância do cuidado com a saúde mental é o objetivo da campanha Janeiro Branco, que em 2022 tem um tema sugestivo:

 “O Mundo Pede Saúde Mental”. 

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Para esclarecer dúvidas sobre o tema, as Firminas convidaram a psicóloga Emanuelle Camelo para responder algumas perguntas. Ela também é conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte (CRP-RN) e falou, entre outros assuntos, sobre como o preconceito e a violência podem afetar a saúde mental das pessoas. Acompanhe!

Aproveitando que estamos no Janeiro Branco, o que é saúde mental? 

 Existe ainda uma discussão sobre essa definição, mas podemos compreender que saúde mental não é apenas ausência de doença ou patologia. Podemos dizer que é a capacidade de um indivíduo em lidar com suas emoções nos mais diversos aspectos que permeiam a sua vida. 

 Para a OMS, a saúde é  “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade”. Desse modo, há fatores biopsicossociais, ou seja, fatores biológicos, psicológicos e sociais que influenciam diretamente nessa condição de “bem-estar” e que podem afetar a saúde mental e a qualidade de vida desses sujeitos.

Há pessoas que confundem a saúde mental com “estar feliz”, isso pode ser um erro?

Certamente. O termo“estar feliz”, não necessariamente tem relação com a capacidade de lidar com situações, mas sim com um sentimento específico de bem-estar, prazer, satisfação momentânea.

Que tipos de enfermidades existem?

São inúmeras, mas o mais importante é focar na busca por uma qualidade de vida em que seja possível existir um equilíbrio e a garantia de direitos, de liberdade, de condições socioeconômicas. 

O que pode desencadear um problema de saúde mental?

Tudo que envolve o desequilíbrio de algum aspecto da vida. Fatores como condições de trabalho, desemprego, condições de moradia, as mais diversas formas de violência, relacionamentos abusivos, etc.

Como identificar ou se perceber com problema de saúde mental? 

Não existe um fator único ou comum a todos, mas podemos dizer que quando ocorrem prejuízos em lidar com a própria vida, em administrar as demandas diárias, nas relações interpessoais…qualquer fator da vida que venha a causar sofrimento psíquico é um alerta de que é preciso procurar ajuda profissional para cuidar da saúde mental. 

Como é possível manter uma boa saúde mental? Ou como se pode melhorar o estado de saúde mental? 

O cuidado com a saúde mental não deve ser compreendido apenas como a responsabilidade única do indivíduo, mas de toda a sociedade, considerando as questões biopsicossociais. E por isso devemos pensar para quem estamos falando sobre saúde mental? Qual seu contexto? Exemplo, fala-se muito em praticar um esporte, fazer yoga, ter uma alimentação equilibrada, etc, porém como indicar esses comportamentos para pessoas em situação de rua? Ou para uma pessoa que está inserida num ambiente violento? A maioria da população brasileira não tem sequer acesso a recursos básicos.

Como o preconceito, seja por gênero, racismo, lgbtfobia pode afetar a saúde mental?  

Pode afetar de forma bem direta, principalmente se não houver uma rede de apoio e ajuda profissional que possa ajudar no enfrentamento de questões específicas a cada contexto. 

Há algum problema de autodiagnóstico?

O autodiagnóstico é importante para identificar quando não estamos bem e quando isso acontece, é necessário buscar ajuda de um profissional da área de saúde. Torna-se um problema o autodiagnóstico quando limita-se a ele e o tipo de tratamento é realizado sem ajuda/apoio profissional. 

Como buscar ajuda?

Por meio do SUS, existem as unidades básicas, os CAPS, SAMU e UPAs, para os casos de urgência e emergência. No privado, existem as psicólogas e psicólogos, assim como psiquiatras, mas todos os profissionais da área da saúde podem ajudar. 

Se é um adolescente, como os pais ou familiares podem ajudar?

Os pais podem ajudar com diálogo. É importante proporcionar espaços seguros para praticar esse acolhimento, estar presente e demonstrar interesse em ajudar, e buscar ajuda profissional. 

Como podemos colaborar com a saúde mental de outras pessoas? 

Dialogar com o outro e estar atento às alterações de comportamento que venham a proporcionar prejuízos na convivência. Acolher, escutar, demonstrar interesse, ofertar ajuda, não julgar, são pontos importantes para fazer com quem esteja em sofrimento psíquico sinta-se seguro e confortável para aceitar ajuda. 

A violência de gênero também desencadeia depressão ou outros transtornos?

Sim. Qualquer forma de violência afeta a saúde mental.  

Como a pandemia influenciou o comportamento das pessoas? 

A pandemia e o isolamento social impactaram as nossas relações e nossas vidas em vários aspectos. Fez com que fôssemos forçados a alterar as nossas rotinas em curto tempo, gerando sofrimento, sentimentos de angústia, medo e o aparecimento de transtornos mentais como ansiedade, depressão, e outros.

Podemos citar também o impacto ocasionado pelas mortes e a não realização de cerimônias como o velório, alterando também a relação de cada indivíduo com o luto, fazendo com que não fosse permitido ter o “último contato” com um familiar, um amigo, um ente querido…