As feridas do racismo e do machismo manifestadas na cidade maravilhosa

Imagem de LeoGaleano por Pixabay

Na véspera do dia internacional da mulher, uma brasileira chorou e gritou, logo após sofrer racismo ao chegar perto de pessoas de seu relacionamento pessoal e ser advertida a se distanciar. Em choque, ao sentir a barbaridade do tratamento, com coragem e dor, Sarah Fonseca fez um vídeo com lágrimas e denunciou a situação nas redes sociais. Gerou uma grande repercussão, depoimentos solidários e bastante apoio. O estabelecimento comercial em Ipanema, por meio de nota da assessoria de imprensa, negou vínculo com o agressor, mas esse caso que foi registrado por ela em Boletim de Ocorrência.

É dilacerante ver milhares de mulheres negras no Rio de Janeiro passarem por constrangimento em vários momentos. Há a lei nº 7.716, criada em 1889, do Crime de Racismo, alterada por meio da número 9459, em 1997, que pune os crimes resultantes de discriminação, preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Apesar do tempo em vigor na legislação, na população persiste a ignorância e poucos recorrem ao cumprimento.

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Constrangimento com racismo e machismo: experiência pessoal

Durante a Copa de 2014, vivenciei abordagem dolorosa com duas amigas, precisamente na semifinal do evento mundial, também no Rio de Janeiro. O amigo de adolescência de uma delas estava em espaço festivo de um país Europeu, na Lagoa Rodrigo de Freitas, e nos convidou para assistir com eles. Quando chegamos ao local o segurança nos impediu de entrar, não solicitou identidade e nem nos deixou conversar com outro responsável. O anfitrião fez sinal animado para a nossa entrada e contamos por meio de mensagem eletrônica que o constrangimento já tinha ocorrido e que ali não ficaríamos. Ele pediu desculpa pele prestador de serviço que nem conhecia e também bem envergonhado. Diante do impacto e vergonha, o sentimento de raiva nos tomou, afinal era o nosso país, porque trataram três brasileiras daquela forma. Talvez um pré-julgamento com associação de questão sexual e financeira ou ainda racista (morenas e negra), a nossa roupa ou comportamento não eram “inadequados” ao lugar. No dia pensei em escrever como desabafo e compartilhar, mas resolvi guardar o vexame e somente tempos depois compreendemos que passamos por uma situação criminosa.

Instagram Sarah Fonseca

A tristeza e revolta de Sarah Fonseca em expor algo grave e luta por justiça, escancara a ferida social gigante em terra carioca, que apesar de ter os braços abertos para o mundo, há pessoas que perpetuam uma marca preconceituosa e ofensiva. Não se deve mais “passar pano” ou apaziguar atitudes racistas, para que esse caso no dia sete de março de 2022 ou tantos registrados em delegacias não permaneçam impunes e que a cada episódio de horror a lei contra a discriminação seja acionada.

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