“Qualquer um pode, e deve, contribuir com a luta antimanicomial”

Firminas entrevista Ângela Aboin, que é mãe de uma criança autista e se tornou ativista da luta antimanicomial por não ter desistido da vida da sua filha, do futuro dela e de todas as crianças autistas do nosso País.

Ângela Aboin é ativista da luta antimanicomial
Ângela Aboin é ativista da luta antimanicomial

Angela Aboin é fisioterapeuta com pós em fisiologia pela Unicamp e mestranda em desenvolvimento humano Unesp;  militante na luta antimanicomial e Maconha Terapêutica. Participa dos conselhos do CAPSi e do Direito da Pessoa com Deficiência.

Acompanhe!

Firminas: O que podemos fazer para não cometer os erros do passado com relação a saúde mental?

Ângela Aboin: Quem não reconhece seus erros tende a repeti-los. É muito importante a sociedade ter humildade e consciência de mudança nesse processo. As pessoas que cresceram ou foram abandonadas em manicômios foram esquecidas pela sociedade, então precisamos falar da perversidade humana e do abuso de poder em instituições e continuar com os processos de inclusão e desenvolvimento humano para que esse período vergonhoso não volte a acontecer.

Firminas: O que podemos fazer para contribuir com a luta antimanicomial?

Ângela Aboin: Qualquer um pode, e deve, contribuir com a luta antimanicomial. Existem muitas formas, como se abrir ao pensamento de inclusão e equidade, conversar sobre o assunto, ouvir as histórias das pessoas que viveram a abertura dos manicômios, discutir saúde mental, valorizar qualidade de vida com senso coletivo, empoderar as minorias, conversar sobre controle de corpos, sobre segurança psicossocial, cobrando políticos e poder público o investimento em educação e pesquisa, participando de conselhos e votando consciente. 

Firminas: Como as famílias podem procurar ajuda que não seja a internação?

Ângela Aboin:  Primeiro temos que entender que uma família que participa da internação de um ente querido o faz em sofrimento extremo. Ajuda profissional  para a família (e para o paciente) é fundamental. Psicólogos, naturopatas, psiquiatras, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, psicopedagogos, grupos de apoio e outras terapias são base para traçar um programa terapêutico levando em consideração as dificuldades e necessidades do individuo+família, este costuma ser um bom caminho. A Cannabis tem sido uma boa ferramenta para substituir medicações alopáticas e as pesquisas têm avançado em todos os diagnósticos de saúde mental.     

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Tratamento de deficiência mental ao longo da história

• Na idade média, a ordem era morte e perseguição a pessoa com doença mental. A deficiência era considerada maldição e até as famílias eram mortas.

• No século XV, as pessoas com deficiências iam para fogueira junto com as mulheres consideradas bruxas.

• No século XVII, essas pessoas eram retiradas do convívio social e trancadas em celas, calabouços, asilos e hospitais

• Só em 1784 foi inaugurada a primeira escola do mundo destinada à educação de pessoas cegas, o Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris. Em 1829, Louis Braille, aluno desse Instituto Real foi quem inventou o sistema braile. Foi a partir dessa instituição que as pessoas cegas começam a ser inseridas na sociedade. 

• No século passado, ou seja, pouco tempo atrás, quem incomodava poderia ir para um hospital psiquiátrico: mulheres que queriam divórcio, gays, lésbicas, pessoas que sofreram algum trauma, pessoas que a família não sabia como lidar, “rebeldes “, pessoas que estavam com depressão ou, por exemplo que tinham o espetro autista, muitos transtornos e doenças psiquiátricas, mas não eram diagnosticados e até crianças eram encaminhadas para esses hospitais.

Para saber mais acesse Desinstitute

Assista a aula sobre A luta antimanicomial e o uso da cannabis de Ângela Aboin

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