Mulheres 45+: Chegou a hora de não mentir a idade e exigir lugar

Live do Firminas com a jornalista Tina Lopes falou sobre etarismo: aspectos sociais, feminismo, tabus e mercado de trabalho
Tina Lopes foi a convidada da primeira live do Firminas – Foto: arquivo pessoal

Se o Brasil era o país do futuro há algumas décadas, o futuro chegou e com ele a conta da idade. De acordo com o IBGE, um quarto da população brasileira (25%) tem 50 anos ou mais. A projeção até 2050 é que 43% da população corresponderá a esta faixa etária. Sendo que as mulheres já são maioria populacional, é natural que elas também vivam mais. 

Porém, o envelhecimento feminino ainda é pouco debatido e visto sob vieses preconceituosos. Até mesmo o movimento feminista ainda aborda a pauta em espaços específicos, não tratando da questão de forma ampla. 

Todo esse contexto reflete em estranhamento, preconceito e invisibilidade, como foram destacados pela jornalista Tina Lopes, 50 anos, autora do perfil @fiftinah, no Instagram, com conteúdos voltados a mulheres 45+. Tina foi a primeira convidada de uma série de lives realizadas pelo Portal Firminas para marcar o lançamento da plataforma, e conversou com a jornalista firmina Carol Avansini.

“A gente sofre todo tipo de preconceito e todos eles se juntam ao etarismo. Aquela coisa de estar bem vestida, magra, arrumada, cabelo e além de tudo tem que ser jovem, né? Aí tem os padrões que a gente se sente obrigada a seguir ou fugir. Na verdade, as pessoas estão vendo isso e se desafiando mais. Até mesmo porque o etarismo tá aí, mas a noção de idade precisa ser estendida”, destacou Tina.

Se a percepção etária precisa avançar, como projetar este futuro? 

“Será de bastante trabalho e temos que ter esperança. Que a gente consiga mostrar a cara, assumindo a idade, demonstrando que ainda somos produtivas, inteligentes, bonitas. Chegou a hora de não mentir a idade e exigir lugar. Isso só vamos saber vivendo. É uma nova realidade”, complementa a jornalista.

Confira os principais pontos da conversa da Carol Avansini com Tina Lopes. A live ainda está disponível no @portalfirmina, no Instagram pelo link: https://bit.ly/38dpVht.

“Se você ainda não sofre, é você quem tem preconceito com a idade”

O etarismo  é preconceito contra a idade, que pode se manifestar em diversos espaços sociais, principalmente na família e local de trabalho. Um dos aspectos negativo é o apagamento da personalidade das pessoas conforme a idade avança. Um exemplo é quando se utiliza expressões como “aquele velho safado”. “O problema não é ele ser velho, mas ser safado”, explica Tina.

“A cabeça para numa idade, mas o corpo avançou”

Um dos primeiros sintomas do etarismo é o estranhamento, quando não é possível se identificar com quem está se tornando e com a imagem externa que a sociedade passa a olhar a mulher. 

“A partir dos 40 (anos), a gente começa a se estranhar. A cabeça para numa idade, mas o corpo avançou. A gente lembra do auge, né? Eu parei pelos 35. A gente se olha e se estranha, o rosto tá diferente, tem que disfarçar mais, se cuidar mais. Ou, ainda, reconhece a mãe ou outras pessoas no espelho. Tem, também um estranhamento social como as pessoas passam a nos tratar”, relatou Tina.

Paralelamente ao estranhamento, também ocorre a irrelevância da mulher 45+, como se as suas opiniões estivessem defasadas. De acordo com a jornalista, por mais que a opinião sobre algum assunto fosse requerida ou respeitada, é comum que parem de questionar sobre a combinação do sapato com a calça, quando a situação social envolve pessoas mais novas. 

“A gente começa a ser tratada como quem já teve o seu tempo. Porém, às vezes a gente também força isso criando um distanciamento ao falar ‘no meu tempo’”, alerta Tina.

“O primeiro momento que sente que a idade pega é quando faz o currículo”

Se atualmente o mercado de trabalho tem sido um desafio para qualquer profissional, imagine para uma mulher 45+. Neste caso, há alguns aspectos que se destacam mais: a percepção que nessa fase de vida a mulher já seja uma empreendedora ou ocupe um cargo de liderança ou que tenha estabilidade financeira. Ou, ainda, o preconceito com quem trabalha em atividades digitais.

“Começa (o preconceito) que chegam chamando a gente de sênior. Mas, um cargo sênior geralmente é único. Uma pessoa para gerir uma equipe. E nem todo sênior precisa ser chefe. Já aconteceu algumas situações que eu chegava e as pessoas não esperavam que fosse a redatora. Na minha idade eu deveria ser a dona da agência, pois sou sênior”, relata a jornalista. 

Se por um lado existe a expectativa pela posição ocupacional no mercado de trabalho, de outro também existe um preconceito com quem trabalha com conteúdos digitais, algo comum no mercado de comunicação. 

“Já aconteceu de chegar em lugares de trabalho e sentir o estranhamento. ‘É você que vai cobrir aqui?’. Eu sou mais velha, mas aprendi a utilizar estas ferramentas. A nossa geração, que tá chegando aos 50 anos, talvez seja dos últimos orgânicos – não românticos como diria Lulu Santos – porque teve a vida inteira fora da internet. Nós tivemos a capacidade de aprender e crescer junto com a internet. Não é todo mundo que tem que saber mexer, programar. Mas nós, que trabalhamos com comunicação, precisamos”, comentou.

Além da expectativa pelo cargo de liderança, é comum também que haja questionamentos sobre estabilidade. Que a profissional tenha um patrimônio, uma poupança, uma aposentadoria à vista e, quando não se alcança esses objetivos é comum a sensação da impostora que não conseguiu fazer nada. 

“Estas devem ser a nossa principal preocupação. A aposentadoria nunca foi algo próximo para nós no mercado da comunicação. Aí vieram as reformas, que tiraram nossos direitos. É urgente que a gente saiba se virar. Como vai economizar se tá tentando sobreviver? Também percebo uma ausência de informações sobre educação financeira e investimento para mulheres maduras. A gente vai ter que começar a se preparar porque o futuro é longo. Vai ser uma jornada de trabalho intenso”, afirma Tina. 

“Mais dificuldades do que tabus”

Questionada por algumas espectadoras durante a live sobre os principais tabus que as mulheres maduras enfrentam, Tina disse acreditar que existem mais dificuldades do que tabus, visto que não são questões que sejam sufocantes. Algumas destas adversidades refletem em colorismo dos cabelos, relacionamentos e até mesmo o atual contexto social-político. 

“Tem a questão do cabelo grisalho (…) As mulheres mais velhas estão namorando rapazes mais novos porque os mais velhos só namoram as mais novas. Acho que também tem a queda da libido com a menopausa…questões mais relacionadas ao corpo. Mas para dizer que são tabus é complicado”, afirma.

Outros preconceitos se manifestam também diante da realidade local, de acordo com Tina. “Dependendo de onde se está, onde mora…o Brasil está virando um país careta. Ser mulher de 50 anos sozinha pode ser visto sob aspecto negativo. Ou, a mulher de 50 é considerada mais atraente. É mais difícil para a mulher viver no Brasil, inclusive a mais velha”, complementa a jornalista.

2 thoughts on “Mulheres 45+: Chegou a hora de não mentir a idade e exigir lugar

Comments are closed.