Força feminista: “Também guardamos pedras aqui” se apropria da Guerra de Troia

Escritora Luiza Romão, que também é atriz, se apropria da guerra de Troia e dos personagens da literatura clássica para contar o outro lado da história, revelando a força feminista

Escritora a atriz performática Luiza Romão – Foto: divulgação

“a literatura ocidental começou com uma guerra

não a neblina das grandes cidades

faz tanto tempo que talvez ouço quase

a literatura ocidental começou com um massacre”

         É assim, com frases e afirmações fortes e pulsantes, que começa Também guardamos pedras aqui, de Luiza Romão, lançamento da Editora Nós. E, como se já não bastasse, a obra prossegue e avisa:

“o livro permanece aberto vê

é a minha vez de contar a história”

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Força feminista

A narrativa é conduzida com a guerra de Troia como objeto central, a partir do qual as injustiças, crimes e opressões são escancarados aos olhos de quem lê. A grande tragédia ocidental é contada pelos feridos, mortos, machucados e, a todo momento, a autora faz o paralelo com o “sul do sul do mundo”.

Para a narrativa que Luiza Romão constrói em Também guardamos pedras aqui, “um corpo é um atestado de barbárie”. O livro corre assim, na linguagem poética, quase violenta, com força para provocar impacto na leitora e no leitor, que pode então questionar: que história é essa que me contaram durante toda a minha vida?

A escritora passeia pelas personagens Ifigênia, Agamenon, Homero, Priamo, Cassandra, Andrômaca, levando o leitor e a leitora pelas mãos nessa travessia de quem enxerga a história por outros olhos. A poesia é permanente na obra, dando ritmo à leitura e beleza à forma.

Da Grécia ao Sul do Mundo

“Durante o processo de escrita do livro, eu fui para a Grécia visitar alguns sítios arqueológicos, templos, teatros, e arquivos iconográficos em geral”, explica Luiza Romão, que conseguiu traduzir essa viagem para quem está aqui “no sul do sul do mundo”.

Dentre todas as opressões escancaradas nas páginas de Também guardamos pedras aqui, a violência sofrida pela mulher é a líder de uma narrativa-denúncia:

“talvez te chamem de louca ou naive

são incontáveis as formas

de rebaixar uma mulher

what? você tá falando grego

está podre seus seios em chama

ainda assim

eles se lambuzarão”

Performance multimídia

O livro Também guardamos pedras aqui é acompanhado por uma performance multimídia de Luiza Romão, que ficará disponível na internet. “É uma performance de spoken word (poesia falada, apresentação com foco na oralidade) que mescla elementos do teatro e da videoarte”, descreve Luiza Romão, que acrescenta: “Ela já foi pensada para o suporte online e tem a duração de um curta-metragem. São basicamente quatro camadas narrativas que se cruzam, se contrapõem, se complementam”.

Algumas cenas (trechos do livro) foram filmadas em um teatro, com Luiza Romão falando diretamente para a câmera. Outras imagens são de intervenções urbanas – “por exemplo, eu escrevi o poema zeus numa rua e no filme aparece essa fotografia”, detalha a autora.

“A trilha sonora potencializa a palavra falada, ora acompanhando o ritmo da voz, ora ambientando a cena, ora marcando o final/começo das cenas. Os poemas são entrecortados por um coro de vozes femininas, feminizadas e de dissidências que entoam o próprio nome, o nome da mãe e de uma irmã – que pode ser de vida, de sangue, caminhada, de memória, de utopia, de rua. O conceito é que os nomes são as pedras do título”, conclui Luiza Romão.

Sobre a autora

Luiza Romão nasceu em Ribeirão Preto, em 1992. É poeta e atriz, autora dos livros Sangria (2017) e Coquetel motolove (2014). Há anos, participa da cena de saraus e slams da cidade de São Paulo. Em 2020, entrou no mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada na FFLCH/USP, onde pesquisa o slam no Brasil. Explora a palavra poética na intersecção com a performance e o cinema.

Também guardamos pedras aqui

Autora: Luiza Romão

Editora Nós

Ficha técnica da performance

   Direção e direção musical: Eugênio Lima

         Direção de Imagem, Iluminação e Montagem: Maheus Brant e Gabriela   Miranda

         Edição final e multimidia: Vic von Poser

         Visagismo: Louise Helène

         Figurino: Claudia Schapira

         Fotografia: Sérgio Silva

         Coro: Nina Rizzi, Lucilia Abrahão, Kimani, Beatriz RGB, Eme Barbassa, Fernanda Machado, Sofia Boito, Adelaide Ivanova Iramaia Gongora,   Jamille Anahata, Mayra Coelho, Lilith Cristina, Indra, Martina Altalef, Anna Zepa, Luz Ribeiro, Vivian Salva, Adriana Romão, Berenice Abrahão, Carlinda Xavier, Agatha e Lorena Xavier

(Com Assessoria de Imprensa)