Mãe de adolescente transgênero: “[ele] é a pessoa mais corajosa que eu conheço”

Neste Dia das Mães, vamos falar sobre mãe de trans. Firminas reproduz a entrevista da nossa firmina Aline Thais de Melo à Agência Aids. Ela é mãe do Gui, que se descobriu homem trans aos 12 anos. “Ele foi muito corajoso em se assumir e reivindicar sua identidade de gênero deixando claro para todo mundo quem ele é”. Confira!

Aline Melo: mãe de adolescente transgênero
A jornalista Aline Melo. Foto: arquivo pessoal

Dia das Mães: “Meu filho foi muito corajoso ao assumir e reivindicar sua identidade de gênero aos 12 anos”, diz a jornalista Aline Melo, mãe do Luiz Guilherme

Neste Dia das Mães, comemorado no domingo (8), a Agência de Notícias da Aids publica histórias de amor, esperança, superação e descobertas na série “Mães que Acolhem”.

São histórias de mulheres que lutam por um mundo mais justo, pelos direitos humanos, contra a aids, a LGBTfobia, a favor da inclusão e do respeito. Por meio delas, homenageamos todas as mães pela coragem com que demonstram seu afeto, mesmo vivendo em um mundo ainda bastante preconceituoso, nunca desistiram de espalhar o carinho e o amor.

A primeira história é da jornalista Aline Thais de Melo, mãe do adolescente Luiz Guilherme, que se descobriu homem trans aos 12 anos.  Ela faz parte do grupo de mães que nunca deixou de acolher quem ama e prova no cotidiano o real amor incondicional.

Entre medos, expectativas, erros e acertos, Aline fala sobre o processo de descoberta, os diálogos e o que mudou – ou não – na relação com o filho. E ela tem um conselho para quem está passando por este momento de descoberta: aceitação e amor.

Aline tem 40 anos, mora em Diadema e vem acompanhando o processo de transição do filho Luiz Guilherme desde janeiro de 2021. Segundo ela, aos sete anos o garoto já apresentava indícios do que estava por vir.

“Ele falava que gostaria de ser um menino. Na época não me dei conta do quanto ele falava sério, achava que ele estava apenas fazendo uma confusão, porque sempre eduquei ele de uma forma não sexista. Não existia brinquedo de menino e de menina, deixava ele brincar de tudo.”

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De acordo com a mãe, não existiu um processo de aceitação, o que houve foi um pequeno processo de luto das idealizações criadas em cima da ‘filha’, porque a partir daquele momento ela começou a vê-lo como um menino. “Nenhum filho veio ao mundo para atender expectativas de pai e mãe”.

Durante a conversa, Aline afirmou que o filho tem uma ótima relação com quase todos os familiares. “Só avós por parte de pai que muitas vezes o chamam pelo nome morto”. Ainda falando da família, a jornalista revelou que o garoto não tem contato com o pai. De acordo com ela, Luiz Guilherme a ensinou como o mundo exige coragem das pessoas. “Ele foi muito corajoso em se assumir e reivindicar sua identidade de gênero deixando claro para todo mundo quem ele é”.

O ‘Gui’, como é chamado carinhosamente pela mãe, foi diagnosticado com depressão em 2019. Desde então, segue em tratamento com medicamentos e terapias. “Logo que ele fez a transição houve uma sensível melhora nesta questão, mas passou rápido.

Certamente, mesmo tendo o apoio da família, não deve ser fácil ser uma pessoa trans no Brasil, ainda mais tendo que lidar com todas as questões da adolescência, com uma pandemia e com um ensino escolar remoto.”

Mãe de trans: dicas para mães que estão passando por esse processo

Com experiência nessa questão, Aline deu dicas para as mães que estão passando pelo mesmo processo. “Conversar com outras mães é importante, sair desse lugar de: por que comigo, para… também comigo”. Ela ainda reforçou que a sociedade não prepara as mães para terem um filho trans e que isso precisa mudar.

Sobre o autocuidado com o corpo, Aline disse que sempre teve esse diálogo com Guilherme, inclusive na prevenção de ISTs. “Pela idade, hoje ele passa apenas pela transição social, a partir dos 16 anos ele vai poder começar a utilizar testosterona para adequar o corpo ao gênero masculino”.

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Apesar de estar sempre ao lado do filho nos momentos mais difíceis, Aline desabafou que não consegue conceber a ideia de que em números estatísticos, Luiz Guilherme teria menos de 30 anos de vida. “Os dados sobre a mortalidade trans no Brasil é desesperador, a gente precisa falar sobre isso! As pessoas trans precisam ser respeitadas para que essa realidade mude.” E ela continuou: “Eles vão respeitar meu filho, nem que seja por meio de escândalo”.

No final da conversa, ao ser questionada sobre os bons momentos que passa com Guilherme, Aline finalizou dizendo que ama assistir séries juntos. “Eu tive muito medo da nossa relação mudar depois da transição, a minha filha era a minha miniatura, éramos muito próximas, muito parecidas, mas continuamos muito amigos e cúmplices”.

Por Matheus Jushiro – Agência de Notícias da Aids

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