Anticoncepcional: você sabe quais os efeitos no seu corpo?

Pílulas com apenas um hormônio apresentam menos efeitos colaterais, mas médicos não se empenham em informar pacientes

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A jornalista Camila Galvez, 35 anos, moradora de Santo André, começou a tomar anticoncepcional hormonal na adolescência, por volta dos 15 anos de idade. Sem qualquer orientação por parte do médico que a atendeu, seguiu fazendo uso da medicação até ter 30 anos e um episódio de trombose. “Ele não me explicou sobre os efeitos, não conversou praticamente nada comigo”, relembra.

Antes de ter trombose, cerca de um ano antes, a jovem lembra de ter lido algumas matérias sobre o risco de desenvolver a doença e sua relação com os anticoncepcionais combinados, com dois hormônios, que era justamente o que ela utilizava – e o que mais é receitado pelos médicos. Mesmo reclamando de fortes incômodos ao ginecologista que o acompanhava, como dores nos seios, foi informada de que apenas se fosse fumante haveria o risco de desenvolver a doença.

Aos 30 anos, com uma dor forte na perna, Camila passou ao menos dois dias indo e voltando de prontos-socorros, sendo medicada para a dor, alegando que suspeitava de trombose – uma parente havia tido o problema recentemente – mas sendo ignorada por diversos médicos. Até que em um dos atendimentos, foi encaminhada para fazer os exames que atestaram o que ela já sabia: coágulos sanguíneos dificultavam a circulação de sangue no seu membro. Trombose.

A jornalista Camila Galvez teve trombose após usar anticoncepcional hormonal combinado por 15 anos / Arquivo pessoal

“Passei dois anos tomando anticoagulante, tentando acertar a dose, ganhei mais de 15 quilos nesse processo. Depois que parei o anticoncepcional meu ciclo ficou maluco, tenho escapes todos os meses e muita cólica”, relatou. Para Camila, falta interesse dos médicos em conversar com as pacientes para, em conjunto com elas, escolher o melhor método contraceptivo, levando em consideração seu estado de saúde e estilo de vida.

“Também percebo que a ginecologia tradicional tem zero interesse que a mulher seja informada sobre métodos alternativos à pílula. O mesmo acontece quanto a tratamentos que não usem hormônios. Não existe outro tratamento para mulheres com endometriose, cistos, o que os ginecologistas tradicionais conhecem é dar anticoncepcional para mascarar sintomas”, afirmou.

É preciso dialogo entre médico e paciente para escolha do método

A falta de diálogo com os ginecologistas relatados por Camila não é um caso isolado. Professora do departamento de ginecologia e obstetrícia da FMRP/USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)  e integrante da Rede Feminista de Ginecologistas e Obstetras, Carolina Sales Vieira afirma que, de maneira geral, ginecologistas são formado para partos e cirurgias ginecológicas e que para a prescrição de anticoncepcionais é preciso um atendimento personalizado, um aconselhamento.

Pílulas de hormônios combinados são as mais receitadas e as que causam mais efeitos colaterais / Pixabay

“Quando uma paciente chega procurando um método contraceptivo é precisou ouvi-la. Seu histórico de saúde, histórico familiar. O que ela espera desse medicamento, se quer continuar a menstruar”, cita. “Vou fazer o aconselhamento para entender o que cada mulher precisa. Isso é possível para todo mundo, basta entender as necessidades da paciente. E com as informações que recebe ela tem capacidade de escolher melhor”, pontua.

A médica explica que existem dois tipos de contracepção hormonal. A que usa hormônios combinados, o estrogênio e o progestagênio (pode ser anel vaginal, medicação injetável mensal, adesivo e pílula), e a que usa apenas um, conhecido como progestagênio isolado (implante, injetável trimestral, pílula e DIU hormonal, dispositivo intrauterino). A maioria dos efeitos colaterais graves como trombose, enxaqueca, derrame, aumento da pressão arterial, perda de libido, entre outros, são ocasionados pelo estrogênio, que além de tudo, está na pílula apenas para que a mulher continue a menstruar.

Carolina detalha que o que causa a contracepção é o progestagênio, que vai inibir a ovulação. Esse hormônio também vai alterar a secreção do colo uterino, o chamado muco cervical, deixando-o mais espesso. Isso dificulta que o espermatozóide entre no útero e chegue onde estaria o óvulo, para a fecundação. Além disso, ele vai evitar que o óvulo se movimente pela trompa. Tudo isso para evitar a formação do feto.

Os métodos hormonais que usam apenas um hormônio podem ocasionar espinhas e têm duas contraindicações claras: gestação e câncer de mama atual. É uma medicação que pode ser receitada para a grande maioria das pessoas, independente das condições de saúde ou das comorbidades (com exceção do câncer de mama atual, como já citado). Nesse momento você deve estar se perguntando: por que raios então a maioria dos médicos receitam as pílulas combinadas? Segundo Carolina, pelo simples fato de que ele vai mudar menos o ciclo menstrual, e regra geral, os médicos acham isso mais simples.

“A pílula com dois hormônios é mais fácil prescrever porque o ciclo menstrual não vai mudar. O profissional gasta menos tempo no atendimento. Diferente da pílula com um hormônio só, quando é tomada de maneira contínua, a menstruação vai ser alterada”, explica. Carolina ressalta que em 80% dos casos, com o uso de progestagênio isolado, pode haver uma menstruação ou menos durante o período de uso. Já 20% das pessoas podem relatar aumento do fluxo menstrual.

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